A BATALHA DE GALIPOLI
A
Batalha de Galipoli, também chamada de Batalha do Dardanelos, foi a tentativa
de invasão da Turquia, para chegar a Constantinopla e pressionar o Império
Otomano a pedir a paz.
Os
britânicos esperavam abrir o Estreito de Dardanelos à navegação das potências
aliadas ou, “No mínimo, [...], forçaria os turcos a concentrar suas forças
na defesa de sua capital, aliviando a pressão não apenas sobre os russos no
Cáucaso, mas também sobre os britânicos no Egito.”[1].
A
estratégia consistia de enviar uma coluna de navios pelo estreito, bombardeando
a costa até chegar a Constantinopla. Acreditava-se que poderiam ter sucesso
utilizando apenas a Marinha na empreitada. Depois da tomada do Canal de Suez,
os aliados deslocaram forças para águas turcas.
As
forças aliadas contavam com militares da própria Inglaterra, além da França,
Austrália e Nova Zelândia. A frota era composta de “...dois modernos navios
capitais – o couraçado Queen Elizabeth e o cruzador de batalha Inflexible –
apoiados por 16 pré-couraçados (12 britânicos e 4 franceses), além de
incontáveis navios menores.”[2].
O
bombardeio começou em 19/02/1915 e visava destruir as defesas costeiras do
estreito para poder adentrar a frota sob menor resistência. A primeira
tentativa de entrada ocorreu em 18/03.
As linhas amarelas são as redes de minas submersas e os quadrados
são as fortalezas turcas nas margens do estreito. A linha mais abaixo é a rede
secreta instalada pelos turcos.
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Dois navios foram enviados, mas encontraram resistência da
fortaleza de Kum Kale. Após mais bombardeios preparatórios, os turcos recuaram
as defesas na entrada do canal.
Em 25/02 os navios aliados penetraram o estreito seguindo os
navios caça-minas. A medida em que avançavam, atacavam as defesas turcas e
enviavam equipes de demolição para destruir as fortificações. Mas os turcos
mudaram de estratégia.
Se as fortificações eram fáceis alvos estáticos, eles passaram a
utilizar artilharia móvel, puxadas por cavalos. Esses canhões disparavam nos
navios e logo se deslocavam, tornando quase impossível aos inimigos acertá-los
da água.
Sob fogo constante o trabalho dos navios caça-minas ficou bastante
prejudicado e a situação piorou quando os navios de guerra começaram a bater
nas minas não desarmadas e “...um dos pré-couraçados franceses bateu em uma
mina e afundou em menos de dois minutos, matando praticamente toda a
tripulação.”[3].
Com vários outros navios danificados pela artilharia turca, a
frota invasora foi obrigada a se retirar. A pressão por um avanço decisivo,
feito à luz do dia, levou à troca do comando da operação e, em 18/03 nova
incursão foi realizada.
A frota nos Dardanelos
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A frota entrou com 12 navios formados em três linhas de
quatro embarcações, mais uma linha com quatro navios de apoio e uma quinta
linha, com duas naus de reserva, seguindo os caça-minas.
Mas os turcos haviam implantado, secretamente, uma linha de
minas paralela à costa, bem perto do curso dos navios invasores. Desconhecendo
o perigo, estes adentraram o estreito e avançaram.
Porém, quando foram manobrar perto da linha minada, o
inferno começou. Os navios começaram a bater nas minas e explodir. O primeiro
afundou matando toda tripulação. Outros ficaram seriamente danificados e um
deles ficou à deriva, tendo que ser abandonado. E os turcos ainda nem tinham usado
todo seu potencial defensivo, localizado na parte mais estreita do canal, em
Çanakkale.
Logo
ficou claro que o estreito não seria tomado apenas pela marinha e que “Para
limpar os Dardanelos seria necessário empregar forças terrestres que ocupariam
as praias: a Península de Galipoli à esquerda e a costa da Turquia asiática à
direita.”[4].
No dia
22/03 os ingleses tomaram a decisão de realizar o desembarque de uma grande
quantidade de tropas terrestres e os locais escolhidos foram as praias do Cabo
Helles, de Gaba Tepe e da Baia de Suvla.
Acima: tropas no Cabo Helles sob ataque. Abaixo, local atual, no Google Street View.
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Mas os
turcos previram os locais de desembarque e posicionaram tropas para defender a
península a partir de posições mais elevadas em trincheiras e com artilharia.
Acima: Cabo Helles. Abaixo: região de Gaba Tepe. Google Street View.
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Em um
25/04 como este, no ano de 1915, os desembarques começaram e, nos próximos nove
dias, os invasores sofreram uma média de mil mortes por dia. Em agosto, quando
a retirada começou, as mortes já atingiam a marca de quarenta mil.
Foi um
massacre, pois os turcos “...lhes fizeram frente com um mortífero fogo de
artilharia e metralhadoras a partir de posições ocultas em terreno alto.”[5].
Acima: Cova Anzac, área de desembarque
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A Batalha de Galipoli terminou oficialmente em 09/01/1916 e, dos
cerca de 480 mil homens que participaram dos combates em mar e terra, nada
menos que 220 mil foram feridos ou mortos.
A ideia de tomar o Estreito de Dardanelos, primeiro apenas com o
uso da Marinha (atravessando sua frota em meio ao fogo cruzado de duas costas
elevadas) e depois com o desembarque de tropas terrestres, teve como resultado
semear a Península de Galipoli com diversos campos como este, da imagem acima.
Os defensores turcos, como o Cabo Seyit, devidamente imortalizado
na estátua da primeira imagem deste artigo, mantiveram o Dardanelos fechado aos
aliados.
Churchill foi, durante muito tempo, acusado de culpa pela tragédia
de Galípoli, mas seu biógrafo Martin Gilbert, na obra Winston Churchill – Uma
Vida,[6] desmente essa informação.
Gilbert afirma que em Janeiro/1915 Churchill estava mais
entusiamado com ações britânicas no Mar do Norte do que com Galípoli e que foi
o Primeiro Ministro Asquith quem decidiu que as prioridades seriam uma ação no
Mar Adriático, para pressionar a Itália, bem como o ataque a Galipoli,
estipulando, inclusive, a data: fevereiro. (pg. 322)
Segundo Gilbert, Churchill não foi o responsável direto pelo
planejamento e nem pela operação de Galipoli, mas levou a culpa que se espalhou
a despeito da documentação com provas em contrário das acusações que
recebia.(pg. 335-336)
Quando falou na Câmara dos Comuns sobre a operação, o Primeiro
Ministro Asquith, apesar de munido destes documentos, não “defendeu Churchill
da principal acusação que faziam a ele, de passar por cima de seus conselheiros
navais.” e quando um novo Gabinete foi formado, Winston não foi incluído. Pediu
para ser nomeado para outro posto mas não obteve sucesso. Também não foi
demitido até que pediu demissão em caráter irrevogável.(pg. 355-356)
A derrota foi um golpe duríssimo na carreira de Winston Churchill,
que, após renunciar ao posto de Primeiro Lorde do Almirantado, terminou se
alistando para combater na França.
[1] SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 175.
[2] Ibid. pg. 176.
[3] Ibid. pg. 177.
[4] PIMLOTT, John. A Primeira Guerra Mundial. Bogotá, Colômbia: Editora Norma. pg. 34. Tradução livre.
[5] Ibid. pg. 35.
[6] GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
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