Mudo
diante da futura esposa, eloquente diante de multidões. Sobre os dotes
discursivos de Churchill, Alexander MacCallum Scott, autor da primeira
biografia do político, escreveu:
Ele toma a atitude inevitável na
qual ninguém ainda pensara, tem a ideia original que é tão simples e óbvia uma
vez proferida e diz a frase feliz que exprime o que todos os homens ansiavam
por dizer e que subsequentemente surge de forma tão conveniente na linguagem de
todo mundo. (pg. 191)
E
todo esse potencial era usado em críticas severas ao governo do Partido
Conservador, que à época tinha como Primeiro Ministro Arthur Balfour[3], e na
defesa do livre comércio, contra as taxações protecionistas defendidas pelos
conservadores.
Tais
ataques, desferidos principalmente da tribuna da Câmara dos Comuns chegaram a
ser razão de severa repreensão do próprio Rei Eduardo VII.[4] (pg. 192)
Churchill acreditava que tais medidas iriam isolar o Reino Unido, conforme um
de seus discursos:
Não queremos ver o império
britânico degenerar numa confederação insociável, como uma cidade medieval
separada por muralhas das regiões circundantes, abastecida de víveres para um
cerco e contendo dentro do círculo de suas ameias tudo o que é necessário para
a guerra. Nós queremos que nosso país e os estados associados a nós participem
livremente e com imparcialidade no intercâmbio geral entre nações comerciais. (<<pg.
190-192)
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Arthur James
Balfour, 1.º Conde de Balfour (Whittingehame, 25/07/1848 – Woking, 19/03/1930)
foi um político e estadista britânico, Primeiro-ministro do Reino Unido entre
1902-1905. É conhecido internacionalmente por ter dado seu nome, quando
ministro do Exterior, à "Declaração de Balfour" através da qual o
Governo britânico apoiou em 1917 as aspirações sionistas de criação de um
estado nacional judeu na Palestina. Eduardo VII (Londres, 9 de novembro de 1841
– Londres, 6 de maio de 1910) foi rei do Reino Unido e dos domínios britânicos
e imperador da Índia de 22 de janeiro de 1901 até sua morte, sendo o primeiro
monarca britânico da Casa de Saxe-Coburgo-Gota.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Balfour
[4] Eduardo VII
nasceu em 09/11/1841 no Palácio de Buckingham, Londres, Reino Unido, e faleceu
no mesmo local em 06/05/1910. Filho da rainha Vitória e do príncipe Alberto de
Saxe-Coburgo-Gota, ele foi o segundo herdeiro aparente que por mais tempo
sustentou o título de Príncipe de Gales em toda a história, superado em 11 de
agosto de 2017 pelo Príncipe Carlos. Durante o longo reinado de sua mãe, ele
foi afastado dos assuntos de Estado e personificou a elite ociosa, tão em voga
na época. Eduardo viajou pelo reino realizando vários deveres cerimoniais e
representou o Reino Unido no exterior. Suas viagens pela América do Norte em
1860 e pela Índia em 1875 foram grandes sucessos, porém sua reputação de
príncipe libertino corroeu a relação com sua mãe.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_VII_do_Reino_Unido
Primeiro Ministro Arthur Balfour - Rei Eduardo VII - Primeiro Ministro Henry Campbell-Bannerman |
A
despeito disso, Churchill tinha, surpreenden-temente, admiradores entre os mais
improváveis conservadores como o próprio Primeiro Ministro Balfour e Hugh
Arnold-Forster, autor da proposta de gastos do Exército. (pg. 190/192).
Quando
Balfour renunciou ao cargo, quem assumiu o governo foi Henry
Campbell-Bannerman.[5]
Chegava a hora de os liberais mostrarem seu valor. Churchill foi nomeado Secretário
de Estado no Ministério das Colônias. Para garantir maioria no parlamento o
novo gabinete convocou eleições gerais e Churchill, lançou-se candidato, com a
plataforma anti sistema tarifário e:
a favor de “uma redução de gastos
em armamento” e da aplicação de impostos sobre o valor das terras. Quanto à
Irlanda, […] veria de bom grado que fosse concedido ao povo irlandês o poder de
decidir seu próprio orçamento, sua própria educação e suas próprias obras
públicas de acordo com ideias irlandesas. (<pg. 194)
[5] Henry
Campbell-Bannerman (Glasgow, 07/09/1836 — Londres, 22/04/1908) foi um político
britânico, Primeiro-ministro do Reino Unido pelo Partido Liberal. Foi
Secretário de Guerra e Secretário para a Irlanda no Gabinete de William Ewart
Gladstone. Campbell-Bannerman não era um exímio orador, mas tinha uma boa
reputação por ser um grande operador político, sendo bem articulado e em 1898,
se transformou no líder liberal da Câmara dos Comuns. Opôs-se a Primeira Guerra
dos Bôeres e lutou por reformas sociais, tornando-se uma das figuras mais
importantes na ala progressiva do partido. Assumiu o Gabinete com a renúncia de
Arthur Balfour, a convite de Eduardo VII. Em seu governo, realizou um acordo
com a Rússia, introduziu diversas reformas liberais e aprovou o "Trades
Disputes Act" (Lei das disputas no Comércio) e o " Provision of
School Meals Act" (Lei para a Provisão das Refeições nas Escolas). Faleceu
logo após renunciar, ainda na residência oficial dos primeiros-ministros
britânicos, em 10 Downing Street.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Campbell-Bannerman
Churchill
concorreu por Manchester e venceu. O resultado geral foi uma vitória
devastadora dos liberais:
Os liberais conquistaram 377
lugares, seus aliados do Partido Trabalhista ficaram com 53 e os nacionalistas
irlandeses, com 83, em um total “ministerialista” de 513 lugares. Contra esse
grupo formidável havia apenas 157 tories, 11 dos quais antigos aliados de
Churchill, os Unionistas pelo Comércio Livre . (<pg. 195)
Como Secretário de Estado no Ministério das
Colônias Churchill voltou sua atenção especialmente para a África do Sul, onde
trabalhou para igualar ingleses e bôeres, elaborar uma constituição e um
governo eleito para o Transvaal e o Estado Livre de Orange e encerrar os
contratos de trabalho semiescravos a que trabalhadores chineses eram submetidos
nas minas daquele território. (pg. 196-202)
Infelizmente
o fim da administração direta britânica deixou a maioria negra a mercê dos
governos bôeres, o que terminaria por resultar no Apartheid. Obviamente
Churchill não tinha como saber disso, nem que seu evidente prazer em caçadas no
Quênia iria ferir o sentimento do politicamente correto atual (pg. 208), embora
o liberal Churchill defendesse causas que hoje seriam vistas como esquerdistas:
A causa dos pobres e dos fracos em
todo o mundo […] precisa ser apoiada; assim, em toda a parte os povos pequenos
terão mais espaço para respirar e em toda a parte os impérios serão encorajados
por nosso exemplo a avançar em direção ao brilho de uma era mais afável e mais
generosa. (pg. 202)
Em
1907 Churchill aproveitou uma longa viagem de férias para visitar várias
algumas colônias e planejar melhorias de caráter econômico, notadamente a
construção de estradas de ferro para ampliar o domínio britânico e,
consequentemente, as possibilidades de comércio.
Em
suas cartas Winston também defendia a adoção de uma lesgislação de proteção
social semelhante ao que fora adotado na Alemanha, pois nele “existem
determinações uniformes e simétricas para assegurar os trabalhadores contra
acidentes e doenças, providências em favor dos idosos e vários serviços contra
o desemprego”. (<pg. 211)
CONTINUA
Nenhum comentário:
Postar um comentário