Total de visualizações de página

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ISRAEL x PALESTINA - BREVÍSSIMA HISTÓRIA

Um brevíssimo resumo sobre o histórico das relações entre Israel e Palestina, para ter uma noção a respeito e tentar entender o que ocorre nestes dias sangrentos de 2014. Sugerimos a leitura das notas de rodapé, para uma ideia bem básica dos temas tratados.
Neste artigo não podemos considerar as alegações de que Abraão deixou seus bens para Isaque, nem que os descendentes de Canaã foram amaldiçoados por Noé ou que os Egípcios deveriam pagar os anos de trabalho dos hebreus na construção das obras de Ramsés.
Da mesma forma não vamos considerar o desejo cristão por Jerusalém por ser esta a cidade na qual Nosso Senhor Jesus Cristo foi assassinado. Ou a argumentação islâmica de que o Profeta Maomé, abençoado seja, subiu aos céus a partir de Jerusalém. Essas são argumentações religiosas que não auxiliam a solução da questão.
Tampouco abordaremos o alegado não-direito de Israel à terra, por conta da expulsão pelos romanos no ano 70 d.C. Argumentações sobre o direito de posse daquela área do Crescente Fértil também não ajudam a resolver a questão.
As inaceitáveis perseguições que os judeus sofreram ao longo dos séculos, confinamento em guetos, conversões forçadas, roubos e extermínios, certamente compuseram justificativas aceitáveis para que o movimento internacional de judeus (1847), e depois o projeto do jornalista húngaro Theodor Herzl de um estado judeu, que gerou o primeiro congresso sionista, na Basiléia (1897), buscassem fixar pátria em um local onde pudessem viver sob a própria autoridade. Por que não a própria “Canaã”, na atual Palestina? Mas ela estava cheia de palestinos que tinham o mesmo direito de estar ali. A convivência era a única solução. Ontem, hoje, sempre.
Theodor Herzl, Arthur Balfour e sua declaração.
Em 1914, menos de 20 anos depois do encontro de Basiléia, cerca de 60 mil judeus, vindos de várias partes do mundo, já haviam se transferido para aquela área e, na medida que mais deles chegavam, cresciam os pontos de tensão com os mais de 500 mil habitantes de origem árabe que viviam na região.
Durante e após a II Guerra o fluxo de judeus vindos da Europa, que fugiam da perseguição nazista ou buscavam refazer suas vidas, subiu imensamente, tornando-se um problema para a Inglaterra, que detinha o mandato daquela região.
Judeus sobreviventes de Buchenwald em Haifa.
A marinha inglesa chegou a impedir o desembarque de sobreviventes vindos dos campos nazistas. Os quatro mil passageiros do navio Exodus foram obrigados a retornar à Alemanha em 1947, em um caso que tornou-se emblemático do drama judeu no pós-guerra.
O navio Exodus, carregado de sobreviventes do Holocausto.
Naquele mesmo ano a recém-criada ONU deliberou uma solução para o caso, dividindo a Palestina em dois estados, um judeu e um árabe e transformando Jerusalém em cidade internacional. Em resumo, a cidade-santa não seria de ninguém, porque seria de todos. Esta seria a situação ideal para uma cidade que concentrava lugares sagrados de três das maiores religiões do mundo e que a História já mostrara ser viável a convivência, considerando a relativa paz interreligiosa existente antes das cruzadas.
Assembléia da ONU, presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, aprova a criação do Estado de Israel.
Mas a resolução da ONU destinava 56% das terras (dentre elas a maior parte das terras mais férteis) aos pouco mais de 500 mil judeus, e 44% das terras aos mais de 1.200.000 palestinos. Os judeus aceitaram a solução, os palestinos, como era de se esperar, não.
Ben Gurion e a Independência de Israel.
 
Antes mesmo da fundação de seu estado, previsto para 1948 quando do fim do mandato britânico na região, os judeus já ocupavam cidades e localidades antes pertencentes aos palestinos, numa tática chamada de defesa agressiva. Até atentados terroristas foram praticados, a exemplo do Atentado do Hotel King David.1
Hotel King David.
Esse avanço foi maior quando, após a fundação do Estado de Israel em 1948, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque, com apoio de Arábia Saudita, Iêmen e Marrocos, invadiram Israel e foram derrotados. Surgia uma nova fronteira, chamada Linha Verde, e estabelecia-se a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e a Jerusalém Oriental.
Mas, se por um lado centenas de milhares de refugiados Palestinos da guerra não puderam voltar para suas casas, por outro os países árabes expulsaram suas populações judias e foi nesta época que iniciaram-se os ataques a Israel, partindo da Faixa de Gaza.
Palestinos refugiados.
Por seu turno, Israel tomou o canal de Suez, mas foi obrigado a recuar por EUA e URSS, garantindo, contudo acesso ao Mar Vermelho e ao canal.
A situação agravou-se quando, em 1967, instigados pela URSS em um movimento típico da Guerra Fria, Egito, Síria e Jordânia enviaram tropas para bloquear o acesso israelense ao Mar Vermelho. Israel respondeu atacando e iniciando a Guerra dos Seis Dias, ao final dos quais tinha tomado a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, a Península do Sinai, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental.
O avanço da ocupação israelense. O segundo mapa (esq. p/ direita) é a divisão feita pela ONU.
A Guerra do Yom Kippur (1973) não foi capaz de alterar a situação, mas a criação da OLP2, disposta à luta armada e à promoção de atentados, sinalizou o que estava por vir. Israelenses foram vítimas de ataques em várias partes do mundo, inclusive a delegação de atletas presentes às Olimpíadas de Munique, em 1972.
A esperança renasceu com a assinatura do Acordo de Camp David (1978)3, no qual Israel, reconhecido pelo Egito, concordou em retirar-se da Península do Sinai, o que cumpriu, e em negociar a autonomia palestina na Linha Verde, o que não cumpriu. Fez, ao contrário, incentivos para a criação de assentamentos judeus na Cisjordânia.
Menachem Begin, Jimmy Carter and Anwar Sadat em Camp David, 1978.
Apenas alguns anos depois, porém, em 1981, Israel bombardeou um reator nuclear no Iraque e interviu na guerra civil libanesa. Em 1987 veio a Primeira Intifada4, uma revolta dos palestinos que resultou em mais de mil mortos, dentre eles, crianças e jovens palestinos que atacaram forças israelenses com pedras e receberam tiros como resposta.
A Primeira Intifada - Jan/88 por Neon Sky.
Os anos 90, porém, foram promissores. Foram assinados os Acordos de Paz de Oslo (1993)5, O Tratado de Paz Israel-Jordânia (1994)6 e o Memorando de Wye River (1998)7. Por outro lado ocorreram o Massacre do Túmulo dos Patriarcas (1994)8 e o assassinato de Yitzhak Rabin9 por um judeu de extrema-direita, o que demonstrou que havia radicais também no lado israelense.
Bill Clinton, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat em 1993.
O clarão, atrás de Yitzhak Rabin, mostra o momento do tiro.
O fim do século XX e início do XXI viram o recrudescimento do conflito. O povo de Israel elegeu Ariel Sharon10, apontado pelos árabes como o responsável pelo massacre de Sabra e Chatila no Líbano em 1982, como primeiro-ministro. E ele resolveu passear na Esplanada das Mesquitas, perto da Mesquita de Al-Aqsa... a provocação resultou na Segunda Intifada11, que durou de 2000 até 2005.
O massacre de Sabra e Shatila.
Cansou? Eu também...
Todos esses conflitos e essas mortes lastimáveis, as disputas de poder entre a Fatah e o Hamas, o aumento dos assentamentos, construção de outro muro da vergonha, os contínuos ataques partindo de Gaza, a permanência dos radicais israelenses no poder e a incompreensível falta de pressão dos EUA para que se restabeleçam as fronteiras de 1967 e cumpra-se a resolução da ONU, acirram ainda mais os ódios e tornam a solução uma verdadeira utopia.
O Muro da Vergonha de nosso tempo.
Os radicais de ambos os lados, Hamas pela Faixa de Gaza e extrema-direita israelense, se auto-alimentam por conta de um cálculo político: eles não teriam vez em um oriente pacificado, com dois estados convivendo em harmonia, mantendo relações comerciais e culturais entre si e com o mundo.
Para Israel só há uma única saída: fazer a paz, interromper os assentamentos, retirar vários já instalados, devolver terras úteis aos palestinos, dar-lhes um estado de fato e garantir-lhes a segurança financeira até que possam viver por si mesmos. Para a Palestina a única saída é a mesma. Apenas esse caminho pode minar a influência dos grupos extremistas palestinos e israelenses.
E será preciso paciência, pois os radicais não evaporarão da noite para o dia. Os ataques vão continuar ainda por um tempo, o que vai demandar perseverança nos esforços pela paz, principalmente de Israel. Respostas militares massivas são o mais nutritivo alimento para o terrorismo.
Quero encerrar assumindo posição firme de repúdio ao contra-ataque de Israel sobre a Faixa de Gaza. Israel certamente tem o direito de se defender, mas o uso desproporcional e indiscriminado da força, massacrando mulheres e crianças, é inaceitável para um estado moderno.
Não é um repúdio por questões políticas, religiosas ou militares, embora todas elas servissem, mas por uma questão que está acima de todas elas: repúdio por uma questão de humanidade.
Não posso concordar com essas cenas de barbárie porque sou um ser humano.


FIM

1 O atentado do Hotel King David foi um ataque terrorista na cidade de Jerusalém, na então Palestina, ocorrido a 22 de Julho de 1946 , tendo como idealizadores uma organização sionista denominada Irgun (diminutivo de Irgun Zvai Leumi, Organização Militar Nacional) e como alvo as instalações do Hotel King David nessa cidade, que eram residenciais dos familiares de funcionários do governo britânico na Palestina. O ataque foi organizado por Menachem Begin que mais tarde ocupou o cargo de primeiro-ministro de Israel por duas vezes. O ataque terrorista resultou na morte de 91 pessoas (28 britânicos, 41 árabes, 17 judeus e 5 outros mortos) e ferimentos graves em outras 45 pessoas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Hotel_King_David

2 Organização para Libertação da Palestina 

3 Os dois Acordos de Paz de Camp David, negociados na casa de campo do presidente dos Estados Unidos em Maryland (chamada Camp David) e assinados na Casa Branca pelo Presidente Anwar Sadat, do Egito, e pelo Primeiro-Ministro Menachem Begin, de Israel, em 17 de setembro de 1978, formam um pactum de contrahendo pelo qual Egito e Israel se comprometiam a negociar em boa fé e a assinar um tratado de paz, conforme os princípios delineados nos Acordos de Paz. O Presidente Jimmy Carter, dos Estados Unidos, foi o patrocinador e anfitrião do encontro, e participou ativamente das negociações.
O Tratado de Paz Israelo-Egípcio foi, de fato, posteriormente celebrado, em 26 de março de 1979, em Washington, DC.

4 A Primeira Intifada, também chamada guerra das pedras, foi uma manifestação espontânea da população palestina contra a ocupação israelense, iniciada em 9 de dezembro de 1987. O termo surgiu após o levante espontâneo que rebentou em 1987, no campo de refugiados de Jabaliyah, no extremo norte da Faixa de Gaza, com a população civil palestina atirando paus e pedras contra os militares israelenses. O movimento atingiu seu ápice em fevereiro do mesmo ano, quando um fotógrafo israelense publicou imagens que mostravam soldados israelenses "molestando violentamente" os palestinos, o que suscitou a indignação da opinião pública. A revolta só terminou no final de 1993, por ocasião da assinatura dos Acordos de Oslo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Intifada

5 Os acordos de Oslo foram uma série de acordos na cidade de Oslo na Noruega entre o governo de Israel e o Presidente da OLP, Yasser Arafat mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Assinaram acordos que se comprometiam a unir esforços para a realização da paz entre os dois povos. Estes acordos previam o término dos conflitos, a abertura das negociações sobre os territórios ocupados, a retirada de Israel do sul do Líbano e a questão do status de Jerusalém. 
pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_paz_de_Oslo

6 O Tratado de paz Israel–Jordânia é um tratado de paz assinado em 1994 entre os dois estados vizinhos. O tratado veio normalizar as relações entre os dois países e resolveu disputas territoriais entre si. A sua assinatura está fortemente ligada aos esforços do Processo de Paz Israel-Palestina entre Israel e a Organização de Libertação da Palestina representante da Autoridade Palestiniana. Foi assinado em Arava, posto fronteiriço na fronteira Israel-Jordânia em 26 de Outubro de 1994, fazendo com que a Jordânia fosse o segundo país árabe a normalizar relações com Israel, seguindo-se ao Egito. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_paz_Israel-Jord%C3%A2nia

7 O Memorando de Wye River foi um acordo negociado entre Israel e a Autoridade Palestina para implementar o acordo provisório antes de 28 de Setembro de 1995. Mediado pelos Estados Unidos, no Aspen Institute Wye River Conference Centers perto de Wye River, Maryland, foi assinado em 23 de outubro de 1998. Clinton abriu a cúpula no isolado Centro de Conferências Wye River em 15 de outubro e retornou pelo menos seis vezes ao local para pressionar Netanyahu e Arafat para finalizar o negócio. No esforço final para conseguir fazer com que Netanyahu e Arafat superam-se os obstáculos, Clinton convidou o Rei Hussein, que havia desempenhado um papel passado para aliviar as tensões entre os dois homens, para participar nas conversações. No último dia das negociações, o acordo quase caiu completamente. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pediu ao presidente Bill Clinton para liberar Jonathan Pollard, um oficial da inteligência naval americana que tinha sido condenado a uma sentença de prisão perpétua desde 1985 por dar informações classificadas para Israel. A divergência surgiu amarga, com Netanyahu, alegando que Clinton tinha prometido a liberação de Pollard e Clinton dizendo que ele só tinha prometido a "rever" o caso. Também foi relatado que o então diretor da CIA, George Tenet, tinha ameaçado demitir-se se Pollard fosse liberado. O acordo foi finalmente assinado por Netanyahu e o Presidente da OLP, Yasser Arafat, na Casa Branca, com o presidente Clinton desempenha um papel fundamental como testemunha oficial. Em 17 de novembro de 1998, os 120 membros do parlamento de Israel, o Knesset, aprovaram o Memorando de Wye River por uma votação de 75-19. Com a eclosão da Intifada de Al-Aqsa, em setembro de 2000 e os contra-ataques pelas Forças de Defesa de Israel, acordos de Wye River e metas permanecem sem ser implementadas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Memorando_de_Wye_River

8 O Massacre do Túmulo dos Patriarcas ocorreu quando Baruch Goldstein, um colono israelense e membro do movimento de extrema-direita israelense Kach, abriu fogo contra palestinos muçulmanos desarmados que estavam rezando dentro da Mesquita Ibrahim no Túmulo dos Patriarcas, em Hebron, na Cisjordânia. Aconteceu no dia 25 de fevereiro de 1994, durante os feriados religiosos sobreposição de Purim e Ramadã. Entre 29 e 52 muçulmanos morreram e mais de 100 feridos. O ataque terminou quando Goldstein foi subjugado e espancado até a morte pelos sobreviventes. Muitos sustentam de que o massacre tenha tido inspirações sionistas. O ataque deflagrou vários tumultos e protestos em toda a Cisjordânia e um adicional de 19 palestinos foram mortos pelas Forças de Defesa de Israel no prazo de 48 horas após o massacre. O então Primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, condenou o ataque, descrevendo Goldstein como um "assassino degenerado", "uma vergonha para o sionismo e um constrangimento para o judaísmo". Depois do massacre, Rabin impôs um toque de recolher contra os 120.000 residentes palestinos da cidade. Os 400 colonos judeus em Hebron continuaram livres para ir e vir. Goldstein era visto como um mártir por extremistas judeus em Hebron, e sua sepultura posteriormente se tornou um local de peregrinação para os seus apoiantes. http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_do_T%C3%BAmulo_dos_Patriarcas

9 Quinto primeiro-ministro de Israel, no cargo entre 1974 e 1977, regressou ao cargo em 1992, exercendo funções até 1995, ano em que foi assassinado. Foi também o primeiro chefe de governo a ter nascido no território que se tornaria Israel e o segundo a morrer durante o exercício do cargo, além de ser o único a ser assassinado. Em 1994, Rabin recebeu o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com Shimon Peres e Yasser Arafat. Ele foi assassinado pelo direitista radical israelense Yigal Amir, que se opunha à assinatura de Rabin do Acordos de Oslo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Yitzhak_Rabin

10 Ariel Sharon foi um político e militar israelita que serviu como 11º primeiro-ministro de Israel até ele ficar incapacitado por um acidente vascular cerebral. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ariel_Sharon

11 A Segunda Intifada ou Intifada Al-Aqsa designa o conjunto de eventos que marcou a revolta civil dos palestinos contra a política administrativa e a ocupação Israelense na região da Palestina a partir de setembro de 2000.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Intifada

Imagens fora da Wikipedia:
http://www.coutausse.com/contents/photojournalism/the%20first%20intifada,%201987%20to%201990/image-intifada-22/
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-4433864,00.html
http://asduastestemunhas.blogspot.com.br/p/aparando-as-arestas.html
http://fasttimesinpalestine.wordpress.com/2009/10/13/maps-of-israel-palestine/
http://mycatbirdseat.com/2010/09/william-cook-return-to-shatila/
http://www.conexaoisrael.org/o-estado-de-israel-declara-independencia/2013-04-12/yairmau
http://ruadajudiaria.com/?p=610
http://www.veteranstoday.com/2011/11/03/yitzhak-rabin-assassination-a-retrospective/

Nenhum comentário:

Postar um comentário