Jerusalem-Israel.
Taken by Anabelle Harari. Return to Jerusalém.
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AS INÚTEIS CONTROVÉRSIAS SOBRE JESUS CRISTO
Este é um texto escrito por um cristão (nem católico, nem evangélico, nem espírita) que não deixa de acreditar em Jesus como Filho de Deus, nem se deixa levar pela fantasia religiosa. Aqui vamos abordar algumas controvérsias existentes sobre Jesus à luz da História e da lógica. Acreditamos que a chamada Semana Santa é um momento oportuno para reflexões, de modo que faremos a nossa, na busca de incentivar cada um a fazer a sua própria.
Não há como negar que, na Judeia sob domínio
romano, entre os reinados de Augusto e Tibério, viveu um judeu chamado Jesus.
Que foi um bom homem, virtuoso, considerado sábio e seguido por muitos. Que foi
condenado à morte na cruz pelo representante de Roma, Pôncio Pilatos, e que
rumores sobre sua volta dos mortos circularam alguns dias depois da execução.
Isso é Histórica e a fonte é o historiador judeu Flavio Josefo[1] (não-cristão,
segundo Orígenes[2], e pró-romano,
segundo Harold Bloom[3], logo
insuspeito de apologia cristã, a meu ver), em texto traduzido de uma versão
árabe, portanto sem os supostos enxertos cristãos posteriores:
Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu
comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos dentre
os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à
crucificação e à morte. E aqueles que haviam sido seus discípulos não deixaram
de segui-lo. Eles relataram que ele lhes havia aparecido três dias depois da
crucificação e que ele estava vivo [...] talvez ele fosse o Messias, sobre o
qual os profetas relatavam maravilhas.[4]
Os
detalhes de sua vida, porém, narrados pelos evangelistas, ou acrescentados pela
tradição católica, apresentam controvérsias que geram conflitos há séculos.
Vamos, aqui, abordar algumas delas, à luz de fontes e da lógica, procurando
deixar de lado a mistificação religiosa. Portanto, em frente:
Jesus era
Filho de uma Virgem?
Não. Na
escrita dos evangelhos, em língua grega, a palavra utilizada para definir
Maria, mãe de Jesus, é “parthénos”, que significa “virgem”. Mateus
escreve “Ora tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que dissera o Senhor
pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho...”[5]. E, quando Mateus fala de
um “profeta”, faz referência a Isaías, que escrevera: “Portanto o
Senhor mesmo vos dará um sinal; eis que uma donzela conceberá e dará à luz um
filho...”[6].
O Livro de Isaias, exposto no Museu de Israel.
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A questão
é que Isaias, que escreveu em hebraico, usou o termo “Almah”, que
significa “donzela”, ou jovem em idade de se casar mas não necessariamente
intocada sexualmente, enquanto a palavra “virgem”, traduzida para o hebraico,
escreve-se “Bethulah”[7]. Assim sendo, quando
Mateus escreveu seu evangelho em grego, mencionando o profeta Isaias, escolheu
a palavra errada para traduzir a referência à mulher que conceberia o
prometido. E, por fim, a profecia nem fazia referência à Jesus, mas ao Filho do
Homem, a vir no final dos tempos, conforme descrito no Capítulo 12 do
Apocalipse.
Isso sem
contar as várias passagens nas quais são feitas referências aos irmãos de
Jesus, inclusive por Flávio Josefo.[4]
Nos seis primeiros séculos do cristianismo não
havia consenso em torno do assunto. As vozes discordantes só foram silenciadas
a partir do ano 649 d.C., quando o Concílio Ecumênico do Latrão criou o dogma
da virgindade perpétua de Maria, no qual a Igreja passou a considerar que ela
era virgem antes, durante e depois da concepção de Jesus?!
The first seven
Ecumenical Councils. Século XIX.
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Vê-se, portanto, que somente por volta de 600
anos depois de sua morte, homens reuniram-se e decidiram que Maria jamais teve
uma relação sexual.
Jesus nasceu em 25 de Dezembro do Ano Zero?
Não. 25 de Dezembro é tempo de inverno na
Judeia, o que contrasta com a afirmação de Lucas de que “... pastores que
estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho.”.
É muito difícil encontrar pasto para as ovelhas no inverno, de modo que,
encontrar os pastores no campo seria uma tarefa penosa em 25 de dezembro do
tempo de Augusto. Para não dizer, impossível.
Jerusalem coberta de neve no inverno. Imagem: Nahost Schnee
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A escolha desta data para o Natal remonta a
séculos depois, nos anos 350 d.C., por determinação do Papa Júlio I. O feriado
surgiu por ordem do Imperador Justiniano, em 529 d.C., substituindo a festa “Dies
Natalis Solis Invicti”, ou “Aniversário do Sol Invicto”, celebração pagã.
João Paulo II admitiu a discrepância de datas em 1993[8].
Sobre o chamado Ano 0, até a Igreja Católica,
na pessoa do conservador Papa Bento XVI[9], reconheceu
que Jesus nasceu antes do chamado ano 0, ou Anno Domini.
A fixação do Anno Domini foi
feita, de forma errada, por Dionísio, o Exíguo[10].
Considerando-se que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, O Grande, e que
este morreu em 4 a .C.,
Jesus só pode ter nascido, no mínimo, 4 anos antes do que a cristandade prega.[11]
E os registros históricos mostram que o
recenseamento da população por ordem do Imperador Augusto, que teria obrigado a
viagem de José e Maria (grávida) a Belém, ocorreu, muito provavelmente, em 8 a .C., considerando que
Augusto ordenou essas contagens em 3 ocasiões, em 28 e 8 a .C. e 14 d.C[12].
Jesus foi crucificado onde hoje fica a Igreja
do Santo Sepulcro?
Quase com certeza não. O local da Igreja
do Santo Sepulcro foi estabelecido por Helena de Constantinopla, mãe do
Imperador Constantino, em 325 d.C., durante sua estada na Palestina. O local
“encontrado” em nada se parecia com uma caveira, apenas tinha uma plataforma
que lembrava vagamente o topo de um crânio.
Reconstituição da colina apontada por Helena como sendo o Gólgota visto do Palácio de Herodes. James Tissot (French, 1836-1902). |
Charles George Gordon[13],
porém, nos parece mais digno de crédito. No século XIX ele descobriu um local,
perto do Portão de Damasco, no qual buracos na rocha formam o desenho de uma caveira,
por isso mesmo chamado pela população de “olhos da caveira”. Considerando que
os evangelhos denominam o Gólgota como Lugar da Caveira, as imagens são muito
sugestivas.
O "Local da Caveira". Golgotha Hill,
Garden Tomb, East Jerusalem.
Taken with
Nikon D100,
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É dever mencionar, porém, que Shimon Gibson,
arqueólogo israelense[14],
descarta o local baseado no fato de que o sepulcro próximo é bem anterior ao
novo, que Jose de Arimatéia teria escavado, segundo os evangelhos.
Jesus ressuscitou dos Mortos em Carne e Osso?
Não. Considerando que Maria Madalena, Apóstolos
e Discípulos estiveram frente a frente com Ele e não o reconheceram, é
impossível que tenha ressuscitado com o mesmo corpo. O leitor coloque-se na
mesma situação de Madalena, por exemplo. Alguém que ama mais que tudo morre na
sexta-feira. No domingo o leitor vai ao cemitério e vê seu túmulo aberto, sem o
corpo. Se, de repente, a pessoa querida aparece em sua frente, como é possível
que não a reconheça de imediato?
Jesus e
Madalena - Noli me tangere by Anton Raphael Mengs
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Certamente Madalena viu Jesus, mas em sua forma
Astral e não em carne e osso. Carne e osso não atravessam paredes e nem sobem
aos céus. Atribuir tais arbitrariedades a Deus ou Jesus é o mesmo que dizer que
ambos subvertem as leis da Física. Mas por que Deus subverteria as leis
perfeitas que Ele mesmo criou? Com qual finalidade? Convencer aos Apóstolos e
Discípulos? Eles que, aliás, já estavam plenamente convencidos? Desnecessário.
Conclusão
Este artigo, certamente, incomodou os mais
tradicionalistas e pessoas acostumadas a não questionar dogmas e ensinamentos
comumente aceitos. Mas essa não é a prática que se espera de quem busca o Reino
de Deus. As questões abordadas acima já geraram grandes discussões, inclusive
disputas mortais. A pergunta que fazemos é: o que isso importa diante da missão
de Jesus? De Sua Mensagem? Qual a importância espiritual dessas controvérsias?
Jesus não veio à Terra para que a humanidade
ficasse discutindo quando e onde nasceu, se Sua mãe era virgem ou não, onde
morreu e foi sepultado, se é certo comer carne ou peixe na sexta-feira, etc.
Jesus veio para trazer uma Mensagem, diretamente de Deus: amar ao
próximo como a si mesmo.
Bem refletido, fica patente que o conturbado
mundo de hoje não precisa mais do que isso. Convém refletir: qual o problema,
individual ou coletivo, que incomoda o ser humano de hoje, que não seria
solucionado se ambos os lados da contenda tivessem em mente essa sentença:
“amar ao próximo como a si mesmo.”? Em outras palavras, fazer ao outro apenas
aquilo que queremos que o outro faça para nós?
Essa é a reflexão que cumpre a cada um fazer em
mais uma “Semana Santa”. E, para auxiliar, indicamos um tema que possui muito
mais relevância espiritual, e sobre o qual poucos refletem:
Jesus vai voltar?
Não. Jesus não vai voltar.
Absurdo! Quem disse isso?
O próprio Jesus!
O Mestre jamais
disse textualmente que voltaria, antes, porém, disse claramente que não o
faria:
Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se
eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo
enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:
do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e
não me vereis mais. (João 16:7-10).
Como nunca vi isso antes? Quem, então, virá,
segundo Jesus?
Não Ele próprio, mas um segundo Filho, enviado
por Deus, vindo de Deus, conforme o Evangelho de João: “Quando vier o Consolador,
que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que do Pai procede,
esse dará testemunho de mim;” (João 15:26).
Para saber mais, sugerimos o link abaixo:
http://destinoereflexoes.blogspot.com.br/2013/07/jesus-cristo-voltara.html
Reconstituição da Jerusalem antiga. O Templo de
Herodes e a Torre Antônia (construção com 4 torres, anexa ao Templo), onde
Jesus foi julgado por Pilatos.
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Fontes e Imagens:
[1] Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em
latim: Flavius Josephus; 37 ou 38 — ca. 100 ), também conhecido pelo seu nome
hebraico Yosef ben Mattityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias [Matias é variante de
Mateus]") e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo
(latim: Titus Flavius Josephus), foi um historiador e apologista
judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis,
que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., pelas tropas do
imperador romano Vespasiano, comandadas por seu filho Tito, futuro imperador.
As obras de Josefo fornecem um importante panorama do judaísmo no século I.
Suas duas obras mais importantes são Guerra dos
Judeus (c. 75) e Antiguidades Judaicas (c. 94). O primeiro é fonte primária
para o estudo da revolta judaica contra Roma (66-70), enquanto o segundo conta
a história do mundo sob uma perspectiva judaica. Estas obras fornecem
informações valiosas sobre a sociedade judaica da época, bem como sobre o
período que viu a separação definitiva do cristianismo do judaísmo e as origens
da Dinastia Flaviana, que reinaria de 69 a 96.
CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia
livre. Disp.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo
GEISLER, Norman, Não tenho fé suficiente para
ser ateu – Vida, 2006, pp.227
Disp.:
http://marceloberti.wordpress.com/2011/04/29/josefo-e-a-historicidade-de-cristo/
- Acesso: 16/04/14
BLOOM, Harold, Jesus e Javé, os nomes divinos –
Objetiva, 2006, pp.31
Disp.:
http://marceloberti.wordpress.com/2011/04/29/josefo-e-a-historicidade-de-cristo/
- Acesso: 16/04/14
GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética –
Vida 2002, pp.449
Disp.:
http://marceloberti.wordpress.com/2011/04/29/josefo-e-a-historicidade-de-cristo/
- Acesso: 16/04/14
[5] Mateus 1:22-23 -
http://pt.wikisource.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_Brasileira_da_B%C3%ADblia/Mateus/I#1:23
[6] Isaías 7:14 -
http://pt.wikisource.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o_Brasileira_da_B%C3%ADblia/Isa%C3%ADas/VII#7:14
Disp.:
http://porquenaocreio.blogspot.com.br/2011/10/almah-e-betulah-qual-o-significado.html
- 16/04/14
[9] http://www.telegraph.co.uk/news/religion/the-pope/9693576/Jesus-was-born-years-earlier-than-thought-claims-Pope.html
[10] Dionísio Exíguo (Cítia Menor, c. 470 — c. 544),
também conhecido por Dionísio o Exíguo ou por Dionysius Exiguus (ou seja
Dionísio o Menor, significando o Humilde), foi um monge do século VI, nascido
na Cítia Menor, no que é actualmente a região de Dobruja, Roménia, membro da
chamada comunidade dos monges da Cítia em Roma, versado em matemática e em
astronomia, que se celebrizou pela criação de um conjunto de tabelas para
calcular a data da Páscoa, levando à introdução do conceito de anno Domini, o
ano do Senhor, a contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo, ainda em
uso e hodiernamente em geral referida como era comum ou Era Cristã. Vivendo em
Roma desde cerca do ano 500, era um dos sábios da Cúria Vaticana, na qual
traduziu da língua grega para a latina 401 cânones eclesiásticos, incluindo os
cânones apostólicos e os decretos do Primeiro Concílio de Niceia, do Primeiro
Concílio de Constantinopla, dos Concílio de Calcedónia e do Concílio de Sardes. CONTEÚDO
aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disp.:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dion%C3%ADsio,_o_Ex%C3%ADguo
[11] CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia
livre. Disp.:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anno_Domini
Disp.:
http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?num=515 – 17/04/2014
[13] Major-General Charles George Gordon, CB
(Woolwich, Londres, 28 de janeiro de 1833 — Cartum, Sudão, 26 de janeiro de
1885), também conhecido como Gordon Paxá ou Gordon "Chinês", foi um
oficial do exército britânico. É lembrado por suas bem-sucedidas campanhas na
China e na África.
CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia
livre. Disp.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_George_Gordon
[14] CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia
livre. Disp.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Calv%C3%A1rio
http://www.abitoffthetop.com/slider/2932/
http://saldangelo.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ecumenical_Councils.jpg
http://dw.de/p/17Gxh
http://luirig.altervista.org/naturaitaliana/viewpics.php?title=Air+views+of+Palestine.+Jerusalem+from+the+air+%28the+Old+City%29...
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mengs,_Noli_me_tangere_-_Madrid.jpg
http://www.bible-history.com/jerusalem/firstcenturyjerusalem_aerial_view.html
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