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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A BATALHA DE TRAFALGAR

A BATALHA DE TRAFALGAR
Simpatizei com Napoleão desde a primeira vez que li sua História lá no distante ginásio. À época me encantou sua genialidade, sua carreira vindo de baixo para o mais alto posto, sua capacidade ímpar de comandar e inspirar seus soldados, seu papel de fazer estremecer e tremer as dinastias da Europa, opressoras de seus povos. Não que ele próprio não tenha oprimido povos com suas guerras, mas os outros oprimiam há muito mais tempo.
Por consequência, antipatizei com os ingleses. Cheios de si, impositivos, narizes empinados. Tornei-os vilões da História que tanto gostava. Não queria saber deles.
Até que, neste ano, lendo a obra “Sharpe em Trafalgar” (de Bernard Cornwell, da Editora Record, Tradução de Sylvio Gonçalvez), e pesquisando a respeito depois, verifiquei que o Vice-Almirante Nelson, comandante da esquadra inglesa, era também genial, inspirava seus marinheiros, era um brilhante estrategista e corajoso lutador. Ganhou meu respeito e, para apagar meu anterior desprezo, presto ao comandante a singela homenagem do texto que segue, sobre sua última e mais importante vitória: a Batalha de Trafalgar!
Horatio Nélson
Em outubro de 1805 as frotas navais combinadas da França e Espanha, com 33 navios, sob o comando do Vice-Almirante Pierre Villeneuve, tinham a missão de juntar-se à força que deveria obter a supremacia naval no Canal da Mancha, permitindo ao exército de Napoleão atravessá-lo e invadir a Inglaterra.
Para chegar ao Canal da Mancha, a frota de Pierre Villeneuve fez manobras diversionistas que lhe permitiram escapar à perseguição movida pela esquadra inglesa, composta de 27 navios, sob comando de Nelson.
Pierre Villeneuve
Em Agosto de 1805 as frotas francesa e espanhola entraram no porto de Cádiz, onde tiveram sua rota para o Canal da Mancha bloqueada pelos ingleses, já que o reforço esperado, sob comando do Almirante Calder, não chegou fazendo com que Villeneuve provavelmente tenha pensado que a invasão fora adiada, o que depois acabou tornando-se verdadeiro, pois Napoleão deslocou suas tropas do litoral para atacar a Áustria.
O atual Porto de Cádiz - Espanha
Na letra "A" o Porto de Cádiz e no balão roxo o Cabo Trafalgar
O bloqueio inglês não era muito apertado, deixava brecha para que a frota de Napoleão escapasse de Cádiz. E esse era o desejo de Nelson, que queria forçar o combate. Diante dessa estratégia, o correto seria Villeneuve permanecer no porto, abrigado e com seus homens descansados e seguros, mas, por alegada ordem de Napoleão, ele fez exatamente o que Nelson queria. Saiu do porto em direção ao Sul, em 19 de outubro de 1805.
A esquadra inglesa imediatamente iniciou a perseguição que foi interrompida nas imediações do Cabo Trafalgar onde Villeneuve tentou regressar para o Norte em uma manobra muito controversa. Quando seus navios assumiram a posição de meia-lua, Nelson atacou.
O atual Cabo Trafalgar - Espanha

O brilhantismo de Nelson revela-se em sua estratégia oposta aos manuais das batalhas navais do período, que indicavam a colocação das frotas inimigas em posição de linhas paralelas, com os lados dos navios apontados uns aos outros, possibilitando o disparo dos canhões.
Nelson posicionou seus navios em duas linhas perpendiculares ao centro da formação franco-espanhola, visando rompê-la e, então, engajar os navios em lutas individuais. Essa formação expunha os navios ingleses a pesados bombardeios de ambos os lados no início, mas Nelson confiava que poderiam resistir. E ele estava certo!
Antes do começo da luta, quase meio-dia, a nau capitânia Victory comunicou-se com as demais (eles emitiam sinais codificados com as bandeiras) enviando a célebre mensagem: "A Inglaterra espera que cada homem cumpra com o seu dever."
Os combates navais eram muito diferentes das batalhas em terra firme, em relação as quais parecia desenvolver-se em câmera lenta, na velocidade dos navios (sem motor) deslocando-se na água.
O êxito dependia de quatro fatores principais entre vários outros: a experiência dos comandantes, a competência dos marinheiros, a rapidez/eficiência dos artilheiros e a resistência dos navios.
As embarcações era projetadas com dois, três ou quatro pisos de artilharia (cobertas), onde os canhões eram posicionados. O Victory, de Nelson, possuia 104 canhões de diversas potências (ou libras). O maior navio da esquadra franco-espanhola, o Nuestra Señora de la Santíssima Trinidad, possuia 136 canhões em quatro cobertas!
Uma das cobertas do Victory, navio de Nelson.
Acima o HMS Victory - Abaixo o Nuestra Señora de la Santíssima Trinidad

Quando posicionados lado a lado, os navios acionavam suas artilharias que varriam com pesadas bolas de metal a madeira e os homens que ficavam em seus caminhos. Os canhões também atiravam bombas que espalhavam metal em todas as direções e balas duplas acorrentadas, que saiam girando como um liquidificador capazes de derrubar mastros. Imaginem o que faziam com pessoas...

O ambiente dentro das cobertas dos canhões era terrível. Quando as bolas de metal perfuravam as paredes espalhavam lascas de madeira que se tornavam como lanças, em todas as direções. Quando os canhões disparavam a fumaça e o cheiro da pólvora substituíam o ar, o barulho fazia ouvidos sangrarem e o recuo dos canhões poderia esmagar os descuidados.
Havia também os soldados que ficavam na parte superior e atiravam com fuzis nas tripulações adversárias e invadiam seus navios quando conseguiam prender as embarcações juntas. Foi nesse fogo cruzado de fuzis que o Vice-Almirante Nelson foi atingido e morreu.
O Victory envolveu-se em combate singular com o navio Redoutable e um de seus soldados atingiu Nelson mortalmente. Ele perdeu a vida mas venceu a batalha. Os ingleses tiveram 1701 baixas (455 mortos e 1246 feridos) e os franceses e espanhóis tiveram 4500 mortos e perderam 22 navios.





A Batalha de Trafalgar foi uma das mais decisivas batalhas navais da História, pois se tivesse resultado diferente os livros hoje trariam outras informações. A vitória inglesa impediu para sempre os planos de invasão de Napoleão e deu à Inglaterra a supremacia marítima que manteve até a II Guerra Mundial.
Sua memória é mantida, principalmente, por meio de uma das mais famosas praças de Londres, a Trafalgar Square, no centro da qual uma coluna eleva aos céus dos heróis a estátua de Nelson.
Acima a Trafalgar Square em Londres e a Coluna de Nelson. Abaixo o HMS Victory, em exposição permanente.

Na doca seca da Portsmouth's Royal Naval Dockyard, o HMS Victory descansa, agora como museu, e uma placa em seu deck superior marca o exato local onde Nelson saiu da vida e entrou na História. Meus respeitos a ele. Mas ainda prefiro Napoleão!
FIM...


Imagens:
Redoutable by Ivan Berryman
http://www.cranstonmilitaryprints.com/item.php?ProdID=11726

http://marine-imperiale.pagesperso-orange.fr/chronologie/1805/trafalgar07.htm

http://www.argc-art.com/shop/index.php?route=product/manufacturer/product&manufacturer_id=12

http://mirsini99.blogspot.com.br/2010/10/old-ship.html

http://maritimo.blogspot.com.br/2005_02_01_archive.html

http://www.zephyr-flags.co.uk/resources/famous-flags-trafalgar.php

http://bibibourcefranc.fr/wa_244.html

http://www.hms-victory.com/things-to-see/lower-gun-deck

http://walls4joy.com/wallpaper/230652-sailing-ships

http://openplaques.org/people/2454

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