Em um dia 26/02, no ano de 1815, Napoleão escapava
da Ilha de Elba onde se encontrava exilado desde 04/05/1814 em cumprimento ao
Tratado de Fontainebleau.
O Tratado fora imposto pelos comandantes da coalizão de
países que derrotara a França na Batalha de Paris.
Recolhido no Palácio de
Fontainebleau, Napoleão foi intimado a abdicar. Ele ainda tentou deixar seu
filho como herdeiro do trono e sua esposa, Maria Luísa da Áustria, como
regente, mas sem sucesso.
Encenação da chegada de Napoleão a Elba |
O tratado, porém, permitia que mantivesse o título de
Imperador e foi-lhe concedido governar a Ilha de Elba, para onde poderia levar
uma pequena corte, 400 soldados, manter alguns navios e receber do governo da
França, anualmente, uma quantia de dois milhões de francos.
Nos primeiros meses de exílio o gênio de Napoleão promoveu
uma verdadeira revolução administrativa na ilha com a "...construção de
estradas e drenagem dos pântanos, impulsionar a agricultura e desenvolvimento
de minas, bem como reformar as escolas da ilha e todo o seu sistema legal."(1)
E também consta que o soberano se tornou praticamente uma
atração turística!
Conforme afirma Katharine Macdonogh em “A Sympathetic Ear:
Napoleon, Elba And The British – From History Today (1994)” (2), no
porto de Elba passaram a desembarcar inúmeros oficiais ingleses para conhecer o
maior de todos os rivais da Inglaterra. E, segundo os relatos que a autora
apresenta, Napoleão os encantou a ponto de torná-los admiradores dali em
diante.
Segundo Lord John Russell, Napoleão se mostrou “extremamente bondoso ... sua maneira parece
estudada para por a pessoa à vontade por sua familiaridade; Seu sorriso e riso
são muito agradáveis” (2)
Outro relato, de Hugh Fortescue, Visconde Ebrington, diz que:
Sua maneira me deixou quase à vontade desde o início, e
pareceu incentivar minhas perguntas, que ele respondeu sobre todos os assuntos
sem a menor hesitação, e com uma rapidez de compreensão e clareza de expressão
além do que eu já vi em qualquer outro homem. (2)
Mas, segundo Shannon Selin em seu blog “Imagining the Bounds
of History” (3), logo a consciência do mundo diminuto ao seu redor,
em contraste com as memórias do grande comando que exercera, parecem ter feito
"cair a ficha" do grande homem. Some-se a isso o descumprimento do
tratado pela França, que não efetuou o pagamento que fora prometido.
Este também parece ser o entendimento do Coronel Neil
Campbell - comissário britânico na ilha – que escreveu diversas vezes aos seus
superiores na Inglaterra informando sobre o declínio financeiro do Imperador,
demonstrado nos cortes de obras e despesas gerais e alertando que a falta de
pagamento a Napoleão poderia causar sua fuga.(3)
Mas, embora não estivesse totalmente errado, o coronel
inglês não sabia que Napoleão já pensava em sair de Elba quando ainda estava em
Fontainebleau!
Mantendo-se bem informado sobre o que ocorria na França,
Napoleão soube de três fatos que podem tê-lo estimulado a deixar a ilha: a
impopularidade de Luis XVIII; as conversas no Congresso de Viena sobre
retirá-lo de Elba para outro local bem mais distante; a movimentação para
coroar o Duque de Orleans governante da França, o que traria uma situação nova
e de difícil reversão.(3)
Assim sendo, já em junho de 1814 havia boatos de que
Napoleão pretendia deixar a ilha. Entretanto o acontecimento só foi se
concretizar mesmo no ano seguinte quando o Coronel Neil Campbell viajou para
Londres em 16/02.
Napoleão imediatamente deu ordens para que suas embarcações
fossem preparadas. A partir dai os acontecimentos são como um fantástico roteiro
de filme de ação e espionagem!
Portoferraio - Ilha de Elba |
Segundo Selin, Napoleão ordenou que o navio Inconstant fosse pintado como um navio
inglês e abastecido com mantimentos.
Quando uma embarcação britânica aportou em Elba ele ordenou
que seu navio fosse escondido para não ser visto e colocou seus soldados para
executar serviços corriqueiros de jardinagem! Pouco depois decretou bloqueio do
porto evitando a partida de qualquer barco que pudesse alertar o exterior sobre
sua fuga.
Em 25/02 ele avisou às autoridades da ilha que partiria e
ordenou a impressão de cartas a serem divulgadas na França. No dia 26/02 a
frota partiu levando 600 membros da Velha Guarda, 100 lanceiros poloneses
desmontados, 300 membros do Batalhão Corso, 50 membros da gendarmeria (guarda) e
100 civis, incluindo empregados. (3)
No mar, a frota chegou a ser abordada por um navio inglês,
mas o capitão deste foi enganado pelo capitão a serviço de Napoleão. Em 01/03 a
pequena tropa do Imperador desembarcou em “Golfe-Juan,
entre Cannes e Antibes”.
Golfe-Juan - França |
Napoleão saudado pelo 5º Regimento |
Algum tempo depois, as tropas do Quinto Regimento, enviadas
para deter a marcha de Napoleão rumo a Paris o interceptaram. O soberano se
postou sozinho, em frente aos soldados e os conclamou a atirar no próprio
Imperador. Como lhes era impossível fazer isso, aderiram a ele e, assim, a
marcha se transformou em um cortejo triunfal que chegou a Paris sem disparar
nenhum tiro.
Mas isso é uma outra História! Vive L'Empereur!
(1)
https://widescience.wordpress.com/2015/03/02/por-que-napoleao-provavelmente-deveria-ter-ficado-no-exilio-na-primeira-vez/
(2)
https://www.napoleon.org/en/history-of-the-two-empires/articles/a-sympathetic-ear-napoleon-elba-and-the-british-from-history-today-1994-vol-44/
(3)
http://shannonselin.com/2016/02/how-did-napoleon-escape-from-elba/
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Fontes e
Imagens:
https://widescience.wordpress.com/2015/03/02/por-que-napoleao-provavelmente-deveria-ter-ficado-no-exilio-na-primeira-vez/
https://www.napoleon.org/en/history-of-the-two-empires/articles/a-sympathetic-ear-napoleon-elba-and-the-british-from-history-today-1994-vol-44/
http://shannonselin.com/2016/02/how-did-napoleon-escape-from-elba/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Governo_dos_Cem_Dias
https://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte
https://en.wikipedia.org/wiki/Treaty_of_Fontainebleau_(1814)
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2016/03/20-de-marco-de-1815-napoleao-bonaparte.html
http://edition.cnn.com/2014/05/06/travel/napoleon-elba/
http://www.lefigaro.fr/livres/2014/11/13/03005-20141113ARTFIG00041-napoleon-sa-relation-intime-avec-le-christianisme.php
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Paris_(1814)
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Montfort_-_Adieux_de_Napoleon_a_la_Garde_imperiale.jpg
https://sonofskye.wordpress.com/2014/05/10/marshal-etienne-jacques-macdonald-of-france-1765-1814/
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