Dividido
entre a paixão política e suas atribuições no exército, Churchill procurava
conciliar ambos os lados. Quando foi juntar-se às tropas deslocadas para
sufocar uma rebelião tribal no noroeste da Índia, manobrou para tornar-se
também correspondente de guerra para dois jornais. Seu intuito era ir se
tornando conhecido e popular. (pg. 86-87) Durante o conflito Winston viu-se
diversas vezes envolvido em combate real. Em cartas à mãe, a quem ele escrevia
compulsivamente, falava sobre suas experiências em combate:
Eles matam e mutilam todos os que
capturam, e nós não hesitamos em acabar com os inimigos feridos. Desde que
estou aqui, tenho visto coisas que não são muito bonitas, mas, como pode
imaginar, nunca sujo minhas mãos com trabalho sujo, embora reconheça a
necessidade de algumas coisas. (pg. 82)
Nesta
época, e depois, o interesse de sua mãe parece ter aumentado, pois ela passou a
atuar fortemente junto à alta sociedade londrina para fazer seu filho
conhecido. Divulgava seus artigos, procurava um bom editor para o livro que ele
escrevera sobre os combates, enfim, estava empenhada em concretizar os planos
de Churchill para uma futura vida pública. (pg. 95-96)
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
Em
1898 ela arranjou uma reunião política em Bradford na qual Churchill discursou
por quase uma hora e seus dotes de grande orador cativaram a audiência, como
ele escreveu:
Fui ouvido com grande atenção
durante 55 minutos”, [...] “ao fim dos quais houve gritos altos e generalizados
de ‘Continue’. Cinco ou seis vezes aplaudiram-me por cerca de dois minutos sem
interrupção”. Quando acabou, “muitas pessoas subiram para as cadeiras e houve
realmente um grande entusiasmo” (pg. 102)
A
discordância entre mãe e filho girava, nesta época, nos gastos excessivos da
mãe, que Churchill criticava a ponto de recorrer a uma espécie de interdição
parcial que protegia sua herança de um eventual segundo casamento da mãe. A
despeito disso, Winston começava a ter bons resultados financeiros com sua
produção literária. (pg. 97-100)
Foi
bem remunerado, por exemplo, por suas cartas ao jornal Morning Post, que ele
negociou enviar do Egito, para onde foi enviado após usar toda influência
possível, inclusive oriundas do círculo mais próximo ao próprio Primeiro
Ministro Salisbury.[3]
O comandante das tropas no Egito, Lorde Kitchener,[4] não queria
aceitar a presença de Churchill de forma nenhuma, mas acabou cedendo às
inúmeras pressões após a morte de dois oficiais. (pg. 104)
[3] Robert Arthur
Talbot Gascoyne-Cecil, 3º Marquês de Salisbury (Hatfield, 3 de fevereiro de
1830 – Ibid., 22 de agosto de 1903), conhecido como Lord Robert Cecil até 1865
e como Visconde Cranborne entre 1865 e 1868, foi um político britânico, por
três vezes Primeiro-ministro do Reino Unido, totalizando 13 anos como chefe de
governo. Foi o primeiro primeiro-ministro do século XX no Reino Unido.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Gascoyne-Cecil,_3.%C2%BA_Marqu%C3%AAs_de_Salisbury
[4] O
Marechal-de-campo Horatio Herbert Kitchener, 1º Conde Kitchener, (24 de junho
de 1850 — 5 de junho de 1916) foi um militar graduado do Exército Britânico e
administrador colonial que ganhou notoriedade por suas campanhas imperiais,
incluindo ordens dadas de "terra arrasada" contra os bôeres e
estabelecimento de campos de concentração na África do Sul durante a Segunda
Guerra dos Bôeres. Ele mais tarde se envolveu no comando de operações militares
no começo da Primeira Grande Guerra, na posição de Secretário de Estado para
assuntos de guerra.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Horatio_Herbert_Kitchener
Primeiro Ministro Salisbury - Lorde Kitchener |
Nesta
campanha no Egito, parte da chamada Guerra Madista,[5] onde serviu
muito bem como observador das tropas dos rebeldes dervixes, Churchill viu a
morte muito de perto durante a Batalha de Omdurman,[6] quando a
cavalaria ficou sob fogo cruzado e, embora
“Dos 310 oficiais e soldados que haviam participado da carga, um
oficial e vinte soldados haviam morrido, e quatro oficiais e 55 soldados tinham
ficado feridos.”, Winston não sofreu sequer um arranhão. (pg. 110)
[5] A Guerra
Madista foi uma Guerra Colonial travada no final do Século XIX. O confronto foi
inicialmente travado entre sudaneses Madistas e egípcios e mais tarde com as
forças britânicas. Também foi chamado o Guerra Anglo-Sudanesa ou Revolta do
Sudão Madista. Os britânicos chamam a sua participação no conflito do Campanha
do Sudão.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Madista
[6] Na Batalha de
Omdurman (02/09/1898), um exército comandado pelo general britânico Sir Herbert
Kitchener derrotou o exército de Abdullah al-Taashi, sucessor do autodenominado
Mahdi, Muhammad Ahmad. Kitchener estava buscando vingança pela morte de 1885 do
general Gordon. Foi uma demonstração da superioridade de um exército altamente
disciplinado equipado com rifles modernos, metralhadoras e artilharia sobre uma
força duas vezes maior, armada com armas mais antigas, e marcou o sucesso dos
esforços britânicos para reconquistar o Sudão.
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Omdurman
Acima e abaixo, a Batalha de Omdurman |
Apesar
de tantas vezes passar incólume por situações como essa, Churchill não era
religioso e, embora compreendesse a necessidade da religião para o homem comum,
via a religião, especialmente a católica, como um narcótico:
Posso imaginar uma pobre paróquia,
com operários que vivem suas vidas em feias fábricas caiadas, labutando dia
após dia entre cenários e ambientes destituídos de qualquer elemento de beleza.
Consigo simpatizar com eles e com sua ânsia por alguma coisa não infectada pela
miséria geral, alguma coisa que gratifique seu amor pela mística, alguma coisa
um pouco mais próxima do belo, e acho insensível roubar de suas vidas essa
aspiração nobilitante, mesmo que ela encontre expressão no incenso queimado, no
uso de batinas e em outras práticas supersticiosas.
As pessoas que pensam muito no
outro mundo raramente prosperam neste mundo; os homens devem fazer uso da mente
sem matar suas dúvidas por meio de prazeres sensuais; a fé supersticiosa das
nações raramente promove sua indústria. O catolicismo — todas as religiões, se
preferir, mas o catolicismo em particular — é um delicioso narcótico: pode
atenuar nossas dores e afugentar nossas preocupações, mas reprime nosso
crescimento e esgota nossa força. E uma vez que a melhoria da raça britânica é
meu objetivo político nessa vida, não posso permitir demasiada indulgência, se
a puder impedir sem atacar outro grande princípio, a liberdade. (<pg.116-117)
Após
ser liberado da Índia e uma nova passagem pelo Egito, Churchill retornou à
Inglaterra onde iniciou sua carreira política.
CONTINUA
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