A BATALHA DE FARSÁLIA
Em um dia 09/08, no ano de 48 a .C., ocorria o confronto
final entre Júlio César e Pompeu, que disputavam o poder sobre a República de Roma, que na prática deixaria de
existir a depender do resultado daquela batalha, travada na Grécia, e do
comportamento de seu vencedor.
A Batalha de Farsália, ou Farsalos, foi
parte da Guerra Civil iniciada por conta do boicote e da perseguição de uma parte
do Senado contra César, no final da Guerra na Gália.
Pompeu, o mais proeminente, poderoso e popular cidadão da facção
senatorial anti César, e membro do Primeiro Triunvirato que fora desestabilizado
pela morte de Crassus, liderou essa disputa pelo poder, deixando a César, como
única opção viável, a reação.
O que Pompeu e o Senado não esperavam é
que a reação de César fosse tão rápida e radical. Ele violou a Lei que proibia
a entrada de generais acompanhados por tropas no território da Itália e marchou
para Roma sem que Pompeu
tivesse tempo de mobilizar tropas suficientes para barrar-lhe o caminho. Só
restou-lhes a fuga! Em pouco tempo, porém, Roma estaria novamente em guerra!
O
campo de batalha visto a partir do Leste, nas imediações de
Paleofarsália.
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Após seu retorno da Gália e da travessia
do Rubicão, César conquistara Roma sem batalha, mas correra em perseguição a
Pompeu, que conseguiu escapar do cerco em Brindisi, levando a guerra para o
solo grego/macedônico.
Com muito mais recursos humanos e
materiais, Pompeu se dava ao luxo de evitar um confronto direto, optando por
minar as forças de seu adversário.
A vitória de Pompeu em Dirráquio obrigara César a
fugir, apresentando-se o momento em que Pompeu deveria persegui-lo, o que ele até
fez, mas interrompeu logo depois.
Quando a perseguição recomeçou e César
estacionou suas tropas em Paleofarsália (não Farsália, que fica bem ao sul do
campo de batalha), não demorou para que os exércitos ficassem frente a frente.
Estava para começar o confronto direto que César sempre desejara e que
decidiria o destino dos dois titans romanos.
César reuniu suas forças com as que
escaparam de Pompeu em Dirráquio e chegou à planície de Tessália, onde
encontrou campos cheios de trigo. A cidade de Gomphos, ou Gomphi1 recusou-se a atendê-lo e foi cercada.
Na ocasião César falou aos soldados das
vantagens de saquear uma cidade bem abastecida como aquela e “...aproveitando
o entusiasmo extraordinário dos soldados, no mesmo dia de sua chegada pôs-se a
atacar a cidade […] entregou-a à pilhagem dos soldados.”2
Esta ação de César, pondo de lado a
clemência, acabou fazendo com que Metrópolis3,
a próxima cidade do caminho, fosse bem mais receptiva, assim como as demais
cidades da região.4
Seguindo sua marcha, César chegou à
região de Paleofarsália (atual Krini – e não Farsália, mais ao sul e que mantém
o nome), acampando às margens do Rio Enipeas. Pompeu também chegou à região e
acampou próximo a elevações de onde podia observar vasta área.5
Em 09/08/48 a.C., finalmente as forças de
Pompeu avançaram em direção ao acampamento de César. Eram compostas por 47 mil
homens e 6.700 cavaleiros.6
César possuía cerca de 22 mil homens e
mil cavaleiros e quando as infantarias ficaram frente a frente, as linhas de
Pompeu eram bem mais robustas.7
Tendo o Rio Enipeas à esquerda de César e
direita de Pompeu, o grosso das cavalarias foram posicionadas no lado oposto de
cada um. Mas César posicionou dois mil soldados da infantaria em uma linha
diagonal, atrás de sua cavalaria, oculta das vistas de Pompeu, mas prontas a
entrar em combate quando a cavalaria mais numerosa deste avançasse,
impedindo-os, assim, de cercar sua infantaria.8
Quando o confronto começou de fato, a
cavalaria de Pompeu avançou a galope, mas a infantaria permaneceu parada, a
esperar a chegada das tropas de César.9
Pompeu queria manter a coesão de suas
forças e desorganizar as tropas de César pela caminhada quando “...estariam sem fôlego e exauridos
de cansaço.”10
Mas as tropas de César não caíram na
armadilha da correria. Avançaram em intervalos, reagrupando e descansando e,
quando chegou o momento, atacaram.11
Pompeu usou tudo que tinha, mas César,
apesar de estar em menor número, manteve reservas e, mesmo com a vantagem ainda maior
que isso proporcionava ao adversário, as linhas de ambos os lados resistiam.12
A decisão, então, só poderia vir do
confronto de cavalarias. Quando a mais numerosa cavalaria de Pompeu começou a
ter vantagem, César ordenou o recuo da sua. Acreditando na vitória, as forças
adversárias começaram a se dividir para cercar a infantaria de César por trás.13
Neste momento, a infantaria obliqua de
César recebeu ordem de ataque. Os legionários investiram ferozmente assustando
cavalos e atacando o rosto dos cavaleiros com suas lanças e, surpresa das
surpresas, a infantaria de César venceu a cavalaria de Pompeu, que se colocou em fuga.14
Uma vez liberada, a cavalaria de César
pôde cuidar das tropas de arqueiros de Pompeu e as reservas que tinha entraram
no combate pelo flanco esquerdo, onde antes estava a cavalaria fugitiva. As
tropas menores cercavam as tropas maiores!15
Sem reservas para
colocar em combate, Pompeu viu suas legiões abandonarem a luta para escapar de
um massacre. Foram recuando lentamente até refugiarem-se nas colinas próximas
do acampamento, para onde seu comandante já se havia retirado. Vitória de César!16
César vencera a batalha decisiva da
Guerra Civil. Mas, mesmo com a vitória assegurada, ele não agia como Pompeu e
queria liquidar a partida, queria a vitória total, de modo que avançou seu exército para o
acampamento adversário, invadindo-o e tomando-o. Pompeu e seus seguidores
fugiram, assim como as tropas remanescentes.17
César colocou
suas forças em perseguição e conseguiu cercar os restos do exército de Pompeu
na atual localidade de Kiparissos, uma colina que foi cercada na base leste,
cortando o acesso a um riacho. Sem água e sem líderes, o restante das forças de
Pompeu se renderam na manhã de 10 de agosto de 48 a .C.18
A Guerra Civil ainda duraria quase 3
anos, mas a Batalha de Farsália foi, a nosso ver, decisiva. Não há um consenso
absoluto sobre os motivos que levaram Pompeu a conceder a César um combate
total quando seria muito mais vantajoso esperar que a fome e outros problemas
minassem a força do exército deste.
O próprio César afirma que a confiança na
vitória de Pompeu era tão grande que os políticos e militares romanos que o
acompanhavam já se envolviam em disputas do poder que teriam ao retornar a
Roma: “... todos estavam ocupados em obter cargos ou compensações
financeiras, ou em dar livre curso aos seus ressentimentos pessoais...”19
Para Rostovtzeff essas presenças políticas
também foram motivo para a derrota de Pompeu, que não tinha total liberdade de
ação, dificuldade causada “... pela presença de grande número de senadores
em seu quartel-general – homens que constantemente criticavam e interferiam nas
disposições do general e exigiam reuniões frequentes para discutir a situação.”20
Sheppard segue na mesma linha ao afirmar
que o próprio Pompeu não desejava conceder um combate direto, que foi obrigado
a isso por seus companheiros “... não por vontade própria...”21
Obrigado ou não,
Pompeu apostou tudo quando não precisava apostar nada. E perdeu. César
manteve-se senhor de Roma e de seus vastos recursos, podendo dividir suas
forças, enviando seus generais para lugares diferentes. Pompeu buscou refúgio
no Egito onde acabou assassinado de forma traiçoeira.
Lissner escreve que o grande general foi
apunhalado às vistas de sua esposa e filhos e que “...cobriu o rosto com sua
toga. Não pronunciou uma palavra e nenhuma queixa lhe saiu da garganta.”22
Quando, na
perseguição, César chegou ao Egito, foi-lhe entregue a cabeça de seu maior
rival, “Profundamente perturbado, César cobriu a face e chorou.”23
1 Sheppard afirma que é a atual Paleo Episkopi
(que não localizamos nos mapas da região), mas nós acreditamos que a antiga
cidade pode ser a atual Gomfoi ou Paleomonastiro.
2 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro
III: 80. pg. 273
3 Sheppard afirma que é a atual Paleo Kastro
(que localizamos ao norte de Gomfoi e não ao sul como deveria ser. Nós
acreditamos que a antiga cidade é a atual Mitropoli, ou Paleoklisi.
4 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro III: 81. pg. 273-275
5 (SHEPPARD: 2010) pg. 53
6 Ibid pg. 56
7 Ibid. pg. 56-60
8 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro
III: 88-89. pg. 281-283
9 Ibid. Livro III: 92. pg. 285
10 Idem
11 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro
III: 93. pg. 285
12 (SHEPPARD: 2010) pg. 73
13 Ibid pg. 74
14 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil.
Livro III: 93. pg. 287
15 Idem
16 Ibid. Livro III: 94. pg. 285
17 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro
III: 95. pg. 289
18 (SHEPPARD: 2010) pg. 81
19 CÉSAR, BELLUM CIVILE – A Guerra Civil. Livro
III: 83. pg. 277
20 (ROSTOVTZEFF: 1983) pg 132
21 (SHEPPARD: 2010) pg. 56
22 (LISSNER: 1964) pg. 67-68
23 Ibid. pg.68
Grande Marcello! Conheci esse site o blog há pouco tempo. Sou entusiasta da história de Roma e os textos que li me cativaram muito.
ResponderExcluirAinda não tive tempo de ver seu canal no YouTube, mas queria saber se você tem outras redes sociais, gostaria de segui-lo.
Abraços,
Claudio.