A ROMA DO GLADIADOR
FICÇÃO E HISTÓRIA
Será difícil encontrar um estudante universitário de História que
não saiba que filmes épicos contam muito mais sobre a época em que são feitos
do que sobre o período retratado.
O filme GLADIADOR (GLADIATOR – Ano 2000 – 155 minutos), do diretor
Ridley Scott, não é diferente. Suas cenas grandiosas e os cenários
espetaculares, porém, podem facilmente fazer com que as pessoas confundam
ficção e História.
No Making Off, presente no box do DVD com a versão extendida do
filme, encontramos muitos esclarecimentos para fazer essa diferenciação.
O roteiro, obra original de David Franzoni, (roteirista de obras
como Amistad), depois modificado por William Nicholson e John Logan, tem sua
inspiração no livro de Daniel Pratt Mannix, “Those About To Die” de 1958,
republicado em 2001 com o título “The Way of the Gladiator”, que trata dos
jogos romanos, mas relacionando-os com a atualidade.
Só este ponto de partida já é suficiente para nos mostrar, sem
dúvidas, que Gladiador é uma obra que trata da antigüidade, mas com um pé em
nosso tempo. E quando ouvimos o produtor Douglas Wick e o próprio Ridley Scott
dizendo que existem muitas semelhanças entre o povo romano e o atual, mudando
roupas, armas e formas, mas permanecendo essencialmente o mesmo, então temos
essa certeza.
E esta parece ser a reflexão para a qual as entrelinhas da obra
nos conduzem, e que parecem explicar o fascínio que o mundo romano sempre traz.
Homens e mulheres lotando estádios numa tarde ensolarada para assistir a outros
homens matando e sendo mortos ou devorados por feras. Seríamos iguais a eles?
Os atores do filme, Tomas Arana (Quintus), Russel Crowe (Maximus)
e Joaquin Phoenix (Commodus), concordam que os espetáculos violentos atraem o
público atual da mesma forma, no que são apoiados por Andrew Wallace, da Escola
Britânica de Roma. Ele faz a mesma pergunta e a responde: sim, somos iguais.
Para isso, roteiristas e
diretor desprezam a História ou a moldam segundo os interesses comerciais, que
significam fazer Roma ao gosto atual. Um realismo fictício, mas que é capaz de
convencer e agradar.
É o próprio diretor quem nos
diz que a pesquisa é básica, que, uma vez identificadas as datas, épocas e
personagens, o resto é dedução, no que é apoiado pelo roteirista William
Nicholson, quando diz que a pesquisa fornece coisas que não se pode inventar,
mas que um roteiro não é a própria História, mas uma história criada, que terá
a preferência sobre a primeira.
Assim nós vamos ver que
Marcus Aurélius e Cômodus são retratados de forma um pouco mais correta que os
demais, pois a História oferece mais elementos sobre eles, ao contrário da
filha de Marcus Aurelius, Lucila, sobre quem quase nada se sabe, apenas que
participou de um golpe contra Comodus.
O personagem principal,
Maximus, nunca existiu, embora o Making Off do filme afirme que a inspiração
para sua criação vem de um general que teria desaparecido logo após a morte de
Marcus Aurélius, porque faria parte de uma lista negra do novo imperador. E é
só isso que se sabe sobre ele. Portanto, não houve um general que virou
escravo, um escravo que virou gladiador e que desafiou um imperador matando-o
na arena.
Vale acrescentar ainda, antes
de adentrarmos o universo do filme em si, que este é sobre um homem e seu maior
desejo: voltar para sua casa, para sua esposa, seu filho, sua família, pois é
preciso, também, atrair o público feminino que não está muito interessado em
lutas e sangue, mas que se comove com o pai de família que, tendo a glória a
seu alcance, prefere voltar para os braços da esposa amada.
Vemos aqui a presença
incontestável de um dos valores máximos da sociedade americana, sempre presente
em filmes e discursos políticos, ao menos da boca para fora: um homem deve
"proteger sua família". Ou vingá-la, quando isso não é mais possível.
Sob este dogma, até mesmo as guerras americanas se sustentam.
Vamos, portanto, investigar
como alguns aspectos da Roma antiga são apresentados pelo filme e compará-los
com a História.
Começamos nossa comparação do
filme Gladiador x História, observando o Exército Romano e a Legião Félix, da
qual Maximus afirma ser o general. Depois vamos nos deter nos personagens
históricos Marcus Aurelius e Comodus e, por fim, a política do Pão e Circo.
Nossas perguntas são: como se
organizava o Exército Romano? É possível enxergar essa organização no filme? A
Legião Felix existiu? Os Imperadores Marcus Aurelius e Comodus estão
corretamente retratados na obra? Como funcionava a política do pão e circo?
Como era o sistema de lutas de gladiadores?
O EXÉRCITO ROMANO EM
“GLADIADOR”
Voltar para casa. É a
primeira ideia que o filme coloca, já na primeira cena. O General Máximus,
comandante da Legião Félix, lembra-se dos campos de trigo de sua casa e
alegra-se com o pássaro que voa, para depois voltar-se para seus homens, bem
posicionados, em uma colina do norte da Germânia, região que atualmente faz parte
da República Tcheca.
A Legião Félix
A Legião Félix realmente
existiu, tratava-se da “Legio IV Flavia Felix”3, fundada
no ano 70 d.C. por Vespasiano, em substituição à Legião IV Macedônica, e, de
fato, esta legião participou da guerra contra os germanos, compondo o exército
de Marcus Aurélius.
O
filme retrata bem essa época, ano 180 d.C., quando o próprio Imperador
comandava os romanos contra os germanos que atravessaram o Rio Danúbio em 169
d.C., durante às chamadas Guerras Marcomanas, ou Germânicas como chamavam os
romanos4 (bellum
Germanicum5 ou Expeditio
Germanica Secunda6),
nas distantes fronteiras do império.
Tropas e Armas
O exército é bem retratado.
Notamos a disposição das tropas, na retaguarda as catapultas e os escorpiões
(lançadores de dardos), seguidos dos arqueiros e, por fim, na linha de frente,
a infantaria, os legionários com seus escudos curvos e retangulares, lança (pilum),
espada (gladio), armaduras e elmos.
No filme não notamos bem as
divisões internas que as legiões possuíam, as decúrias, as centúrias, as
coortes, etc, e nem o posicionamento das fileiras da infantaria. Mas vale
lembrar que trata-se de um filme e não um documentário.
A Legião Romana, historicamente,
segundo a pesquisa realizada para o filme, estendia-se por cerca de 1,5km. Os
soldados perfilavam-se em fileiras de 1000 homens, distando cerca de 2 metros
um do outro.
A fileira seguinte
posicionava-se 4 metros atrás, cada soldado posicionado no espaço entre os dois
que estão à sua frente, assim, quando a tropa se posicionava para arremessar as
lanças, não feriam os homens da fileira de trás. Não notamos isso, mas podemos
ter bem uma ideia da organização que tornava o exército romano tão superior.
As armas também não podem ser
consideradas exatamente iguais às da época, uma vez que sua confecção é apenas
inspirada em estátuas e livros. As catapultas do filme conseguiam arremessar os
vasos de óleo a 140m de distância. As verdadeiras lançavam seus projéteis a 250
metros segundo as informações do filme! Os escorpiões lançavam os dardos a 300
metros!
Estratégia
A estratégia também é
valorizada. No início, logo após decidir sobre a posição das catapultas,
Maximus monta seu cavalo e vai para o meio da floresta, atrás das linhas
inimigas, encontrar-se com a cavalaria, que vimos se deslocando pela retaguarda
na primeira cena.
Notamos que o ataque é
coordenado (Ao meu sinal, mostre o inferno!). Uma pesada carga de artilharia,
composta de vasos de óleo incendiado, dardos e flechas, é disparada. Enquanto a
infantaria marcha, batendo nos escudos, lembrando o pelotão de choque das
polícias atuais.
Esse ataque de artilharia tem
um limite de tempo para ocorrer, pois deve estar encerrado com o maior sucesso
possível quando a infantaria tiver alcançado o inimigo, evitando o chamado
“fogo amigo”. Em tempo, também, de evitar atingir a cavalaria, que chega por
trás, surpreendendo o inimigo e, praticamente, encerrando a batalha.
A eficiência da infantaria é
visível. O avanço é bastante organizado, feito como uma parede de escudos. As
flechas inimigas encontram a formação Testudo, a tartaruga, copiada
dos macedônios e espartanos.
Escudos empurram, as espadas
golpeiam, escudos repelem os contra-ataques, e o inimigo vê-se bloqueado por
uma barreira que os empurra de encontro à cavalaria que chega na retaguarda,
obrigando os germanos a se defender, voltando as costas às espadas da
infantaria. Duas frentes, derrota certa.
Indumentária
Vale ressaltar o cuidado na
composição dos figurinos, que praticamente excluiu aquele visual dos filmes de
época, das saias, substituindo-as por calças curtas, mais lógicas para o
inverno que se iniciava.
Pode-se observar que as
armaduras não são aquelas tradicionais dos filmes dos anos 60, porém mais
elaboradas, e embora as armaduras apresentadas nos filmes épicos sejam as mais
encontradas em estátuas e colunas, as que são usadas em “Gladiador” podem ser
vistas em alguns museus e parecem ser bem mais eficientes na proteção ao corpo
do soldado.
Vemos também que as patentes
são mais distinguíveis, diferentes dos filmes dos anos 50 e 60, onde, com raras
exceções, todos os romanos vestiam-se como centuriões, usando aquele elmo com
penacho e a saia.
O aspecto dos soldados, sujos
e esfarrapados, com as armaduras envelhecidas também é bem colocado,
lembrando-nos que aqueles homens estão há anos longe de casa, guerreando, sem
tempo de preocupar-se muito com a aparência.
Conclusão Inicial
O filme faz uma boa representação do exército romano, certamente
sem fidelidade absoluta aos dados históricos, mas seguindo uma lógica
aceitável.
Do acampamento dos soldados até a estratégia militar, nota-se uma
preocupação em mostrar realismo, se não 100% histórico, mas ao menos plausível
aos nossos olhos.
MARCUS AURÉLIUS
GOVERNANTE FILÓSOFO
A nosso ver Marcus Aurelius
foi um exemplar quase perfeito do governante filósofo que Platão idealiza em
sua obra “A República”!
O Imperador
No filme "Gladiador" Ridley Scott apresenta um imperador
já bastante envelhecido, parecendo ter bem mais que os 59 anos de idade que
tinha em 180 d.C., talvez para acentuar um ar filosófico e meditativo, tão bem
interpretados pelo falecido Richard Harris.
O filme retrata um Imperador
cansado das batalhas, exausto pela distância de casa, preocupado com questões
existenciais, morais, e com a imagem que projetaria para a posteridade. Vemos
seu auto-reconhecimento como pai ausente e a reprovação ao comportamento de seu
filho Cômodus.
É histórico que Marcus
Aurélius escreveu suas famosas “Meditações” durante os anos de duração das
Guerras Germânicas, e representando estas passagens temos a cena em que Maximus
vai à sua presença e o encontra escrevendo. Leia a obra de Marcus Aurelius
clicando aqui.
Menções são feitas a Lucius
Vero, falecido em 169 d.C. e que foi co-imperador junto com Aurelius. Pouco se
sabe sobre ele, apenas que foi pessoa de pouco brilho, se comparado ao colega,
e falecido vítima de uma peste, durante uma campanha militar. O filme
corretamente o menciona como marido de Lucila, casamento de conveniência
política, e pai do segundo herdeiro na linha de sucessão ao trono.
A História sai de cena quando
vemos o Imperador combinando, com seu general vitorioso, uma transferência de
poder temporária após sua morte, e posterior entrega do governo ao Senado,
tornando Roma novamente uma República.
Semelhante situação só pode
ser encarada como uma tentativa dos roteiristas em tornar mais palatável aos
gostos atuais pela democracia, a história de um homem que, apesar de
destacar-se largamente de quase todos os demais imperadores, exerceu o poder
com todos os pressupostos e que usava os títulos de César e Augusto.
Sem contar que,
historicamente, Marcos Aurelius nomeou Cômodus como seu sucessor e co-imperador
ainda em 177 d.C., portanto, 3 anos antes do período retratado no filme.
A Morte de Marcus Aurélius
Nada como uma conspiração
para compor a base de uma boa aventura. A história também não está em cena
quando o imperador é assassinado pelo próprio filho.
Mas esta cena serve para
mostrar como as sucessões dos imperadores eram momentos delicados. No filme
vemos que Cômodus busca imediatamente o apoio do exército ao pedir a fidelidade
de Maximus, coisa que já havia insinuado na festa da vitória sobre os germanos.
Ele já havia conseguido a
fidelidade de Quintus, o segundo em comando, então, sem Maximus, (que a partir
de sua recusa deverá ser eliminado por constituir-se perigoso obstáculo),
nomeia Quintus chefe da temida guarda pretoriana, o corpo de segurança do
imperador, sobre cuja força baseará seu poder.
E é, de fato, historicamente
sabido que muitos imperadores deveram suas vidas e governos à fidelidade da
guarda pretoriana, assim como tantos outros foram traídos e assassinados por
ela.
Na verdade Marcus Aurelius
também foi vítima da peste, provavelmente o sarampo, à época chamado Peste de
Antonine, que grassou entre 165 e 180d.C., falecendo na cidade de Vindobona,
atual Viena, Áustria, mencionada no filme por um dos gladiadores, dentro do
Coliseu.
COMODUS
À SOMBRA DO PAI
À SOMBRA DO PAI
Até que ponto as faltas de um
filho são as falhas de um pai?
Busto do verdadeiro Imperador Comodus |
O Filho do Imperador
"Gladiador” apresenta
Comodus como um jovem que não vê a hora de ser nomeado sucessor de seu pai, que
mal pode esperar para exercer o poder e fazer dele um uso que, acredita,
deveria ser feito por seu pai.
Mas, como já foi dito no
texto anterior desta série, ele não matou Marcus Aurelius e já era co-Imperador
quando seu pai morreu.
Fica patente, desde o início,
o desprezo que sente pela instituição do Senado, e que não reconhece nos
senadores os intermediários entre o Imperador e o povo de Roma.
Demonstrando o verdadeiro gosto
de Comodus pelos espetáculos, o filme o apresenta, logo no início, planejando
jogos e sacrifícios em honra do pai, não ficando claro se com isso rendia
realmente homenagens a Aurelius ou se satisfazia os próprios desejos, uma vez
que o próprio pai rejeita o sacrifício dos touros que o filho lhe oferece e lhe
conclama a honrar Maximus, o verdadeiro vitorioso sobre os germanos.
Sim, Comodus lutava na arena.
Mas fazia isso dentro de estritas normas de segurança pessoal, considerando que
seus oponentes não receberiam armas reais e dificilmente algum gladiador teria
ímpetos de matar o Imperador de quem poderia receber a liberdade e boas
recompensas.
O Governo de Comodus
O filme nos faz imaginar que
Comodus teve uma passagem relâmpago pelo poder, que na realidade durou 12
longos anos.
Porém, Ridley Scott apresenta
um imperador bastante convincente, muito bem interpretado pelo jovem ator
Joaquin Phoenix, que alterna momentos de uma energia furiosa com fragilidade,
típicas da idade e da pressão de assumir tão imensa responsabilidade ainda
muito jovem.
Mas o roteiro corteja
perigosamente o ridículo ao mostrar o Imperador de Roma reconhecendo que tem
medo do escuro.
O filme está correto quando
demonstra, logo no início do reinado, os problemas do jovem imperador com o
Senado e sua irmã, mas não encontramos qualquer indício de que Comodus nutrisse
uma paixão incestuosa por Lucila.
O que se sabe é que ela
esteve envolvida na primeira conspiração para matá-lo, no que fracassou e
acabou sendo exilada e, depois, executada.
Também é pouco provável a
cena que mostra o imperador armado dentro do Senado e uma mulher, no caso sua
irmã Lucila, participando da sessão e intervindo nos debates.
Os Jogos
No filme, conforme prometera
fazer, Comodus abre uma grande temporada de jogos no Coliseu. Ele justifica sua
decisão com duas motivações: uma pública, homenagear o pai; e outra privada,
conquistar o povo dando-lhe uma visão da glória de Roma através das lutas no
Coliseu, já que a população apenas ouve falar das glórias romanas conquistadas
nos campos de batalha, pelas legiões.
Organizar estes jogos custava
muito caro aos cofres romanos, e o filme explica que os estoques de cereais
estavam sendo vendidos para pagá-los, o que ocasionaria uma temporada de fome
mais à frente.
Isso, segundo o filme,
justificaria o golpe planejado pelo Senado e por Lucila contra seu irmão. Na
verdade, Comodus usava os impostos do Senado para pagar pelos jogos, por isso
era bastante impopular entre os ricos, mas popular entre os pobres!
Seu reinado também foi, por
paradoxal que pareça, um período de descanso para os cristãos, contra quem as
perseguições do império diminuíram bastante!
Enfim,
pode-se até dizer que Comodus foi morto por conta das lutas de gladiadores, mas
não participando de uma delas.
Seu fim veio por meio de
outra conspiração, que envolveu sua amante Márcia e altos personagens do
império, auxiliares próximos do Imperador.
A amante de Comodus pediu ao
gladiador Narciso que o matasse, o que este fez estrangulando-o durante o
banho.
Ou seja, sua morte veio pelas
mãos de um gladiador, mas o campo de batalha foi uma banheira, e não as areias
do Coliseu.
PÃO E CIRCO!
Sabe-se da importância que
era dada aos jogos em Roma (como parte da política do pão e circo) pela
quantidade de arenas e anfiteatros espalhados por todo o império, cujas ruínas
até hoje dão testemunho.
Os jogos distraiam a atenção
do povo oprimido, enquanto o pão lhes matava a fome. Alimentado e bem
distraído, o povo não parava para avaliar sua situação social e política, amava
os governantes que lhes proporcionavam aquela vida e, indiretamente, davam-lhes
a popularidade que precisavam para manter o poder.
Distribuição de pães aos cidadãos no Coliseu
|
Esta prática de legitimação
popular do poder é muito bem representada na obra de Ridley Scott. A
necessidade de dramatização, porém, faz com que logo a História saia de cena
novamente.
No filme, o Imperador se vê
num dilema ao descobrir que seu grande inimigo, Maximus, está vivo e se tornara
um gladiador vitorioso.
Como este conquistara o povo
com suas vitórias na arena, (e vivia desafiando o imperador, virando-lhe as
costas, desobedecendo suas ordens, etc), matá-lo não seria fácil. Como o
próprio filme mostra, seria preciso, primeiro, matar-lhe a fama, o nome, derrotá-lo. É o que
Comodus tenta fazer quando resolve enfrentar o general na arena.
É sabido que o verdadeiro
Comodus venceu torneios de gladiadores, todos arranjados, é claro, pois seus
oponentes portavam armas falsas.
Porém, há divergências quanto
ao local onde isso ocorria, pois se há quem acredite que o imperador fazia
apenas algumas apresentações restritas, por outro lado há quem acredite que ele
lutava no próprio Coliseu e que cada aparição do imperador custava 1 milhão de
sestércios de cachê, segundo as informações extras do filme.
Fazendo jus às informações
históricas de lutas arranjadas, Ridley Scott mostra o Imperador ferindo Maximus
antes do confronto, para ficar em
vantagem. Como o povo não estaria
ciente da situação, ele espera ganhar a fama por derrotar o grande campeão na
arena. Mas Maximus é tão melhor guerreiro que, mesmo ferido e desarmado, consegue
matar o Imperador com a própria arma deste!
Contudo, o verdadeiro Comodus
não morreu na arena. Uma conspiração, que envolveu até mesmo sua amante
preferida, logrou introduzir um lutador chamado Narciso nos aposentos do
Imperador onde o matou estrangulado.
Esta foi a morte real do
Imperador que, se por um lado demonstrava pouco apreço pelo posto que ocupava e
pela governança, por outro nomeou administradores militares e políticos
competentes, garantiu o abastecimento alimentício de Roma e demonstrou
inclinação pelos menos favorecidos, a exemplo dos cristãos, a quem pouco
perseguiu, agindo menos contra estes do que seu pai, tão humanista.
Como se vê, uma personalidade
bem diferente daquela dicotomia “bem x mal” que o filme apresenta para deleitar
os expectadores.
Enfim, morto o vilão, o filme
caminha rapidamente para o final, prisioneiros livres, Roma livre, pronta para
a democracia. Maximus pode, então, seguir para a outra vida e reencontrar sua
família, pode, finalmente, “voltar para casa”.
Na verdade, após a morte de
Comodus, Roma atravessou um período de grande instabilidade que só terminou com
a posse de Septimo Severo em 193 d.C. Roma jamais voltou a ser uma República.
FIM
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1 GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Tradução e notas suplementares de José Paulo Paes. Editora: COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 1980.
2 ROSTOVTZEFF,
M. História de Roma. Rio de Janeiro; Zahar Editores, 1961.
3 LENDERING, Jona. Legio IIII Flavia Felix.
http://www.livius.org/le-lh/legio/iiii_flavia_felix.html
- Cap. em 14/09/15
4“It was during Marcus' war against the
Germans that the following incidents occurred ...” (LXXI – 5)
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/72*.html
5Historia Augusta
– Marcus Aurelius (pars II) – (21-8)
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/L/Roman/Texts/Historia_Augusta/Marcus_Aurelius/2*.html
6História Augusta - The Life of Marcus
Aurelius - Part 2 (Nota 182)
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Historia_Augusta/Marcus_Aurelius/2*.html#note181
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