Foto: Munir Chatack/Record - Portal R7 / Os Dez Mandamentos* |
O ÊXODO E A HISTÓRIA
Por conta da novela, e do filme de
Ridley Scott, o tema Êxodo, voltou a fazer parte do cotidiano das
pessoas. As opiniões vão desde o descrédito até a crença total.
Muitos acham que não ocorreu e muitos outros que aconteceu
exatamente como escrito na Bíblia.
Mas, dentre estes últimos, quando
afirmam a exatidão do relato bíblico, o fazem com as imagens dos
filmes na mente. Isso induz algumas perguntas: os filmes são fiéis
à Bíblia? A Bíblia tem respaldo histórico? O Êxodo aconteceu
mesmo? Ou não?
A epopéia do povo semita, que muito
tempo depois foi chamado de Hebreu, começou com a vinda de José,
vendido como escravo por seus próprios irmãos, segundo o relato
bíblico.
Por conta de seu dom de
interpretação de sonhos, José caiu nas graças do Faraó da época,
chegando a ocupar o posto de ministro do reino. Através de José,
seus familiares vieram, anos depois, e ganharam a permissão de se
instalarem em território egípcio, na região do delta do Nilo: :
“Assim
habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram
possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito”. (Gênesis
47:27)
Séculos depois, outros Faraós,
principalmente por razões militares, passaram a perseguir os
israelitas, cobrando-lhes impostos, promovendo massacres e
obrigando-os à servidão (Êxodo 1:8-22). A tradição aponta para
Seti I e Ramsés II como sendo estes faraós.
A situação só foi alterada quando
Moisés, um israelita criado na corte do Faraó pela filha deste,
tomou partido de seu povo e agiu de forma a libertá-lo, segundo a
Bíblia com a ajuda de Deus, através de eventos milagrosos.
O que há de verdade nisso? Os
estudiosos, em especial os que negam o acontecimento do Êxodo,
argumentam que não há um único registro sobre essa partida de
escravos do Egito, com exceção, claro, da Bíblia.
O próprio nome, Israel, só surge
na pedra conhecida como Estela de Merenptah: “...Israel está
destruído [ou devastado], a sua semente [ou descendência] não
existe mais...”1.
Merenptah foi o sucessor de Ramsés II.
Essa ausência de registros,
especialmente no Egito onde tudo era registrado, é um argumento
poderoso a favor dos que negam o Êxodo. Contudo, de nossa parte,
acreditamos que o evento ocorreu, embora seja necessário separar a
fantasia, e os exageros, da realidade. Esta é nossa demanda nesta
nova mini-série de textos.
http://seroword.com/reviews/exodus-gods-and-kings-film-review/ |
O Êxodo ocorreu? Muitos negam.
Outros acreditam piamente no relato bíblico. Não nos encaixamos em
nenhuma das duas vertentes. Também não acreditamos na subversão da
Natureza.
Para nós, aqueles eventos ocorreram
milimetricamente dentro das Leis Naturais, que são Leis de Deus. E
todos possuem uma explicação totalmente lógica. Pois a Verdade não
se afasta da lógica.
Isso não significa uma acusação
de falsidade ao texto, pois dois fatores devem ser considerados logo
de início: (1) o pensamento do homem da antiguidade atribuia os
acontecimentos naturais às suas divindades; (2) o Livro do Êxodo
foi compilado (e ampliado) somente vários séculos depois do
acontecimento, durante ou depois do cativeiro na Babilônia.
Apesar disso, admite-se que um grupo
de antigos semitas (que só foram chamados hebreus muito tempo
depois) teria se estabelecido no Egito sob dominação dos Hicsos,
durante a XV Dinastia.
O Faraó dessa época seria Apopi I
2,
sendo ele, portanto, quem nomeou José como seu ministro. Os Hicsos,
que de fato conquistaram o Egito, foram expulsos, mas os descentendes
de Israel teriam permanecido.
A Bíblia informa que os supostos
escravos israelitas teriam construído as “cidades-celeiros
de Pitom e Ramessés.” (Êxodo 1: 11), o que posiciona o
fim de sua permanência no Egito, de fato, à época dos Faraós Seti
I e Ramsés II.
E sabe-se que a cidade de Ramessés,
ou Pi Ramessés, ou ainda Per-Ramessés, realmente existiu, tendo
sido capital do Egito durante o reinado de Ramsés II.
São constatações interessantes,
que fornecem uma localização espaço-temporal para os confrontos de
Moisés com o Faraó, o que é muito bom.
Contudo, para cumprir nossa tarefa
auto-imposta de desmistificar o acontecimento, é preciso enfrentar
as contradições existentes no relato bíblico. Quais são elas?
A tradição coloca os israelitas
como escravos, embora a Bíblia3
não use a palavra “escravidão”: “Assim
que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão,
em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu
serviço, em que os obrigavam com dureza.” (Êxodo
1:14)
Quando se fala em escravidão as
pessoas comumente pensam na prática lastimável que existiu no
Brasil. Mas aquele tipo de exploração não existia no Egito Antigo.
Lá as pessoas não eram consideradas objetos sem vontade, situação
que só surgiu na Grécia séculos depois.
A servidão sim, existia. Mas ela
era aplicada a quase todos os trabalhadores egípcios, em especial os
camponeses que, depois da época da colheita, até o plantio
seguinte, trabalhavam para o Faraó nas grandes obras que erguiam
desde os templos, túmulos e palácios, até os projetos de
irrigação.
Para os egípcios, que acreditavam
na necessidade de agradar os deuses e auxiliar o Faraó em sua tarefa
de manter a Ma'at (ordem cósmica - Natureza em equilíbrio), esse
trabalho talvez fosse aceitável.
Se e quando os israelitas foram
incluídos nessa prática, obviamente não se agradaram, considerando
que sua crença era bem diferente e sua cultura era pastoril e não
agrícola nem servil.
http://www.bible.ca/archeology/bible-archeology-exodus-route-goshen-red-sea.htm |
Seguindo em nossa demanda por
desmistificar o Êxodo e defender sua ocorrência, também é preciso
rever a quantidade de israelitas que viviam no Egito à época de
Ramsés II.
Relembrando que os descendentes de
Jacó, rebatizado Israel, se estabeleceram no Egito menos de 400 anos
antes do reinado de Ramsés II, a Bíblia estabelece um número dos
que se mudaram: “Todas as
almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó, foram
setenta almas;”
(Êxodo 1:5)
A quantidade dos que partiram,
porém, é surreal: “...partiram
os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos
mil a pé, somente de homens,
sem contar os meninos.”
(Êxodo 12:37).
Bem, se atribuirmos famílias a
esses homens, e se as considerarmos compostas por uma esposa e três
filhos (número bem tímido), teremos cerca de três milhões de
pessoas abandonando o Egito.
Não temos conhecimento de nenhum
país da África, do Oriente Médio, do Mediterrâneo ou da Europa,
que possuísse ao menos a metade desse número de habitantes à
época. O número é obviamente super dimenssionado. O Egito ficaria
vazio.
Por outro lado, comandando
seiscentos mil homens adultos, com um mínimo de capacidade militar,
Moisés não precisaria pedir ao Faraó para partir. Poderia tomar o
Egito para si, ou qualquer outro país da região que quisesse.4
Isso porque o país de Ramsés II,
que era talvez a maior potência militar da época, e que reunira sua
força total para a Batalha de Kadesh, contava com efetivos que não
chegavam a 50 mil soldados.
Assim, por mais que se
reproduzissem, e considerando as altas taxas de mortalidade e baixa
expectativa de vida da época, setenta pessoas não se transformariam
em três milhões em menos de 400 anos. O mais provável é que
tenham sido bem menos de 100 mil pessoas que partiram do Egito sob a
liderança de Moisés.
Outra contradição muito importante
é a última das chamadas “Pragas do Egito”, a morte dos
primogênitos.
http://pt.wahooart.com/@@/8EWRF2-Lawrence-Alma-Tadema-a-morte-de-primeiro-nascido |
A Bíblia informa que: “...
aconteceu, à meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos
na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em
seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e
todos os primogênitos dos animais.” (Êxodo
12:29)
Logo de início é preciso retirar
da cabeça a ideia de que o filho do Faraó seja, como é mostrado nos filmes, um
bebê. Como se vê acima, a Bíblia não usa a palavra “criança”,
e considerando que o primogênito será sempre o filho mais velho,
muitos dos mortos podem ter sido crianças, mas a maioria seria de
jovens e adultos.
E aqui surge uma situação
embaraçosa, pois o primogênito de Ramsés II de fato morreu antes
dele, mas já era quase velho para os padrões antigos e a causa
mortis foi bastante banal para a época.
Seu nome era Amun-herkhepeshef e sua
múmia foi encontrada na tumba KV5, no Vale dos Reis. Os estudiosos
que examinaram seus restos mortais com modernas técnicas concluíram
que:
...o
crânio de Amun-herkhepeshef apresentava as marcas de um estranho
ferimento. Os exames comprovaram que na ocasião da morte deste
homem, o primogênito de Ramsés II, sua idade oscilava por volta dos
30 anos e esse ferimento fora certamente causado em batalha, tendo
sido inclusive uma das causas da sua morte devido a uma forte
hemorragia craniana.5
https://plus.google.com/114029499980147896714/videos |
http://www.dominiosfantasticos.com.br/id485.htm |
Está certo que a Bíblia usa o
termo “ferir”, mas não se pode imaginar que Deus saísse de casa
em casa martelando as cabeças dos egípcios e de seus animais.
Uma hipótese bem plausível é a de
que alimentos enterrados (para escapar dos gafanhotos) foram
contaminados. Como os primeiros a comer eram os primogênitos, eles
morreram.6
Mas o filho do Faraó não se encaixa nesta forma de morte.
Outra possibilidade é a ocorrência
de um ataque furtivo, ou mesmo uma batalha. Bem refletido, por que
Deus precisaria que os israelitas marcassem suas portas com sangue?
Essa ação se coaduna muito mais como orientação a um grupo de
ataque que precisasse distinguir em quais casas deveriam entrar ou
não.
Por outro lado, em caso de batalha,
certamente muitos primogênitos, com seus melhores animais, podem ter
morrido e o episódio em que o exército do Faraó é colhido pelas
águas se encaixa também nessa possibilidade.
Claro que a mente supersticiosa do
homem antigo viu tudo isso como obra de Deus, muito embora não seja
viável imaginar o Criador matando pessoas, principalmente crianças,
e animais inocentes.
http://www.mfa.org/collections/object/seventh-plague-of-egypt-33665 |
Qualquer que tenha sido o motivo
para a morte de seus filhos, é possível imaginar que, após estas,
os egípcios praticamente imploraram pela partida dos israelitas.
Como se chegou a isso?
A Ma'at, ordem cósmica, estava
completamente desequilibrada, o que evidenciava uma falha do faraó e
a aparente “ira dos deuses”! O Deus dos israelitas demonstrara
seu poder e algumas das principais divindades egípcias haviam sido desmoralizadas. Mas as primeiras “Pragas do Egito” podem realmente ter
ocorrido?
Sem dúvida foram acontecimentos
extraordinários, mas naturalmente viáveis, dentro da lógica
irrefutável das Leis da Natureza, com exceção, claro, da
transformação do cajado em cobra, que tanto pode ter sido uma
visão, quanto uma metáfora.
Vamos, porém, partir do princípio.
O episódio da sarça ardente, avistada por Moisés: “E
apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma
sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se
consumia.” (Êxodo 3:2)
http://www.briancallart.com/?jud-gallery=moses-and-the-burning-bush |
Sem dúvida deve ter sido uma visão
impactante, mas sua ocorrência é perfeitamente possível. Em
regiões onde o gás natural aflora à superfície, e onde o calor o
faz se inflamar, alguns arbustos podem pegar fogo “espontaneamente”.
Evidentemente não será qualquer arbusto.
O Dr. Harold N. Moldenke, do Jardim
Botânico de Nova York, indica o arbusto Dictamnus
Albus L: “uma erva grande de um metro de altura, com panículas de
flores cor de púrpura. A planta toda é coberta de minúsculas
glândulas oleaginosas. Esse óleo é tão volátil que se evapora
continuamente, e a aproximação duma chama descoberta causa uma
inflamação súbita...”7
http://www.logbia.republika.pl/dyptam.html |
Já no Egito, como o faraó não
aceitou liberar os israelitas, Moisés deu início à sucessão de
pragas (Êxodo 7-10).
As águas do Nilo viraram sangue,
peixes morreram, rãs invadiram as ruas e casas, enxames de insetos
se apresentaram, doenças mataram pessoas e animais e choveu granizo
incandescente! Ufa!
É muita tragédia junta não? Mas é
tudo possível, mesmo concentrado, especialmente na sequência em que
ocorreu.
A região onde ficava Pi-Ramsés é
a foz do Rio Nilo, onde ele se divide em vários braços menores. Um
destes braços, já perto do mar e sob condições especiais de baixa
vazão, pode ter sido contaminado pela alga chamada Oscillatoria
rubescens8,
que tornou a água vermelha como sangue, e tóxica. Já aconteceu na
Austrália, nos arredores de Sidney, e no Brasil, no Ceará.9
http://www.telegraph.co.uk/travel/picturegalleries/9705809/Sydneys-beaches-closed-as-algae-turns-the-sea-blood-red.html |
Com a água tóxica é óbvio que os
peixes morreram, pois não poderiam sair. Já as rãs e sapos, que
podiam, sairam, invadindo a cidade. Ao ficar muito tempo fora da
água, porém, também morreram e seus corpos em decomposição
atraíram os enxames de insetos que atacaram pessoas e animais,
trazendo as doenças de pele.
Uma erupção vulcânica na região
do Mediterrâneo ou na Arábia certamente foi a causa da chuva de
granizo incandescente, o que é comprovado pelos exemplares de pedra
pomes que foram encontrados no Egito.10
Sabe-se que a pedra pomes é originada na lava vulcânica e o Egito
não possui vulcões.
E, depois de tudo isso, vieram os
gafanhotos para terminar o serviço, destruir o restante das
plantações e trazer a consequente fome.
A Bíblia relata que, a despeito de
todas essas catástrofes, os israelitas não foram atingidos e isso é
a prova de que os fenômenos foram concentrados nos arredores da
capital. Essa concentração está perfeitamente dentro da lógica
por dois motivos:
- o sofrimento deveria vir sobre quem de fato tinha o poder de decisão e que mais se beneficiava do trabalho servil, ou seja, a elite egípcia residente na capital, e em última instância, o próprio Faraó;
- os israelitas não foram atingidos pois não moravam na capital. Certamente residiam próximos aos locais das obras que executavam, perto de outros braços da foz do Rio Nilo que não foram atingidos pela água vermelha que desencadeou quase tudo.
Que
a mentalidade supersticiosa do homem antigo tenha atribuído tudo a
milagres arbitrários, não é de se estranhar, pois tanto os israelitas
quanto os egípcios pensavam assim. Aconteceu? Sim, acreditamos que
aconteceu. Mas de forma natural, dentro das Leis da Natureza, que são as
próprias Leis de Deus.
Estes sinais vinham de um recipiente contendo uma pequena fogueira, carregada por um mensageiro atrás de quem as pessoas seguiam. Conforme se depreende do relato
bíblico, estes sinais foram usados para despistar os perseguidores
egípcios pois antes da travessia do mar, o sinal mudou: “E
o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e
ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante
deles, e se pôs atrás deles.” (Êxodo
14:19).
Note-se que, primeiro a Bíblia informa que o Senhor ia à frente. Depois é o Anjo que ia. Ou um ou outro não é mesmo? E o detalhe curioso é que, conforme a tradição bíblica, anjos são mensageiros, de modo que pode ter ocorrido um erro de tradução que faz pensar em algo sobrenatural, quando, na verdade, o homem que carregava o vaso com brasas seria apenas isso mesmo, um homem.
http://d4nations.com/webpubl/300-aog---the-miracle-of-crossing-the-red-sea-took-place-on-the-seventh-day-of-the-celebration-of-the-feast-of-unleavened-bread.html |
Após a morte dos primogênitos,
finalmente o Faraó concordou em libertar seus servos. Uma vez
livres, e autorizados a sair do Egito, para onde foram?
A Bíblia descreve que a marcha era
guiada por sinais: “E o
Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar
pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para
que caminhassem de dia e de noite.”(Êxodo
13:21)
Essas colunas de fumaça e fogo
seriam, na verdade, sinais utilizados pelos exércitos da época para
manter coesas e direcionadas as marchas de seus soldados, técnica
copiada por Moisés.11.
Acima e abaixo, representações da coluna de fumaça e fogo, do documentário Batalhas a.C. - Moisés Fugindo da Morte - History |
https://www.youtube.com/watch?v=SqkX3Y4YzLU |
Note-se que, primeiro a Bíblia informa que o Senhor ia à frente. Depois é o Anjo que ia. Ou um ou outro não é mesmo? E o detalhe curioso é que, conforme a tradição bíblica, anjos são mensageiros, de modo que pode ter ocorrido um erro de tradução que faz pensar em algo sobrenatural, quando, na verdade, o homem que carregava o vaso com brasas seria apenas isso mesmo, um homem.
E, então, chegou o momento mais
emblemático de toda a epopéia: a travessia do Mar Vermelho. Teria
sido como nos filmes?
Conforme a Bíblia, “...Moisés
estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um
forte vento oriental
toda aquela noite (grifo
nosso);
e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas.”
(Êxodo
14:21) 12
Os filmes já ficam, assim,
descartados, pois a abertura do mar demorou a noite toda, não foi
repentina como mostrado no cinema. Mas é uma ausência o item mais
gritante do versículo acima: a Biblia não fala em Mar Vermelho!
O que estamos vendo é o relato de
uma região relativamente rasa, perto do litoral e sob a influência
das marés. Isso exclui uma travessia nas partes mais largas dos
golfos de Suez e Ácaba.
A possibilidade mais comumente
aceita é que a travessia ocorreu no área do Mar de Juncos, uma
região pantanosa, no Delta do Nilo, que à época também era
chamada de Mar Vermelho.
http://www.biblearchaeology.org/post/2008/08/New-Evidence-from-Egypt-on-the-Location-of-the-Exodus-Sea-Crossing-Part-I.aspx |
Quando a maré baixou, os israelitas
tiveram tempo de atravessar, naquela mesma noite, pois os egípcios
estavam enganados pelos sinais de fogo. Quando, ao amanhecer,
perceberam o erro e entraram no pântano em perseguição, ficaram
presos na lama com seus carros. Estavam na armadilha pois naquela
manhã, as águas retornaram:
Então
Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retornou a sua força
ao amanhecer, e os egípcios, ao fugirem, foram de encontro a ele, e
o Senhor derrubou os egípcios no meio do mar.
Porque
as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o
exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles
ficou. (Êxodo 14:27,28)
Essas constatações tornam muito
mais verossímeis os relatos bíblicos, afastam as fantasias e os
efeitos especiais do cinema, deixando os acontecimentos como eles
realmente foram e como devem ser vistos.
Assim sendo, a nosso ver, tanto as pragas quanto
a travessia de fato ocorreram, mas dentro da lógica e sem ferir as
Leis de Deus que regem a Natureza. Como Moisés era um conhecedor da
região pela qual fugira e onde fora pastor de rebanhos, não é de se estranhar
que tenha seguido pelos melhores e mais rápidos caminhos.
http://www.deityandhumanity.com/12-mt-sinai--second-coming-compared.html |
Depois de escapar dos soldados do Faraó, o que seria mais lógico para Moisés, que, como pastor, conhecia bem a região: Adentrar mais ainda o território que queria deixar ou tomar o caminho mais curto para fora dele?
A resposta a essa pergunta vai colocar por terra a atual localização do Monte Sinai! Porque é óbvio que Moisés buscaria sair o mais rápido possível do Egito, mas, se fosse em direção à Península do Sinai, estaria entrando mais profundamente na terra de Ramsés II.
Assim sendo, o atual Monte Sinai, não é o Monte Horebe da Bíblia! E isso se dá por dois motivos:
(1) Conforme a Bíblia “... o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente.” (Êxodo 19:18).
Sabe-se que montanhas que tremem e soltam fumaça só podem ser de um tipo: vulcões. E o atual Monte Sinai não é um vulcão.
Sabe-se que montanhas que tremem e soltam fumaça só podem ser de um tipo: vulcões. E o atual Monte Sinai não é um vulcão.
(2) A Península do Sinai, e o monte nela, pertenciam ao Egito na época de Ramsés II, de modo que Moisés jamais adentraria ainda mais profundamente o território egípcio quando conhecia bem os caminhos e queria justamente sair dele.
Mas, onde fica, então, o Monte Sinai mencionado na Bíblia?
É preciso lembrar que Moisés o conheceria bem, pois levava seus rebanhos a pastar em seus arredores, de modo que não poderia ficar muito longe de Midiã, onde morava com Zípora.
E a própria Bíblia confirma essa constatação em duas passagens distintas:
E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. (Êxodo 3:1)
Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, ... (Gálatas 4:25)
Portanto, sabendo que o Monte Sinai da Bíblia fica na Arábia, qual seria o verdadeiro? Há duas opções:
(1) O monte Jebel el Lawz13, que tem pedras escuras no cume, que dão a aparência de queimadas, e em cuja região os arqueólogos encontraram muitos artefatos e símbolos israelitas e egípcios desenhados nas rochas.
http://www.cntravelre.com/sight/saudi-arabia/jabal-al-lawz |
(2) O Monte Hala-'l Bedr, ou Monte Bedr14, mais distante de Pi-Ramsés, mas que é um vulcão de verdade.15
Qualquer que seja o correto, parece surgir diante de nós o provável acontecimento do Êxodo, muito mais plausível, dentro das Leis da Natureza e, mesmo assim, sem ofuscar a participação divina em todo processo.
Vemos essa participação na condução de Moisés, no uso de ocorrências simples para levar a um desfecho, na junção e no encadeamento de fenômenos naturais, na sua concentração sobre um ponto espaço-temporal específico. Só a força divina pode fazer tal coisa dentro da mais perfeita lógica e dentro das próprias Leis.
Aqui estamos colocando a nossa crença, o que é nosso direito. E construímos nossa narrativa diante dela. Escrevemos de forma a instigar os crentes e descrentes: àqueles mostramos a possibilidade, a estes questionamos a forma. E o vice-versa é igualmente válido.
Se, por um lado, acreditamos no acontecimento, por outro isso não nos impediu de questionar a fonte (Bíblia) a todo momento, até mesmo com provas contrárias, como no caso do primogênito de Ramsés II.
É bem verdade que o Faraó do Êxodo, considerando ser um evento real, pode nem ser Ramsés II. Mas não é impossível que seja, pelo conhecimento que se tem hoje.
É bem verdade que o Faraó do Êxodo, considerando ser um evento real, pode nem ser Ramsés II. Mas não é impossível que seja, pelo conhecimento que se tem hoje.
As chamadas “Pragas do Egito” muito provavelmente não atingiram todo o país, mas não é impossível que tenham assolado a capital.
Não há registro de uma chuva de fogo na época, mas há pedras pomes no Egito, onde não existem vulcões.
Não há registro de uma chuva de fogo na época, mas há pedras pomes no Egito, onde não existem vulcões.
Não há registros dos israelitas no Egito nos tempos de Ramsés II e antes, mas as cidades que os israelitas alegam ter construído existiram de fato.
Enfim, é certo que não foram encontrados registros do Êxodo no Egito. Mas não significa que eles não existam.
Isso é algo que não permite confirmar o acontecimento, mas também não permite negar. Deixa a situação em suspenso.
Isso é algo que não permite confirmar o acontecimento, mas também não permite negar. Deixa a situação em suspenso.
Por outro lado, sabe-se agora que quase todos os eventos fantásticos da narrativa bíblica são possíveis. É uma possibilidade, portanto, que o Êxodo tenha ocorrido. Acredita-se nela ou não.
Nós acreditamos em Deus e acreditamos que o Êxodo ocorreu, assim como outras passagens relatadas na Bíblia. Mas não todas e, certamente, não literalmente.
E por isso, fazemos a diferenciação de que nada pode ocorrer fora das Leis da Natureza, o que contradiz a narrativa bíblica em muitas partes. Mas isso não a torna, para nós, um tabu.
Pois é natural que o homem antigo, carente das explicações científicas que dispomos hoje, relatasse tudo como obra dos deuses.
Nosso objetivo, porém, foi alcançado. O Êxodo continua sendo um evento relatado apenas por fonte única, mas sabemos que a maior parte daquela narrativa extraordinária é fisicamente possível.
Se ocorreu ou não, é questão íntima de cada um acreditar. Para os que acreditam, porém, os textos possibilitaram uma visão mais realista do evento.
Para os que não acreditam, até que surja uma prova irrefutável, oferecemos a reflexão interessante de que, ao menos, não é impossível que tenha ocorrido.
Assim, atendemos ao objetivo que sempre move o Reino de Clio: contar uma boa História!
FIM
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* http://entretenimento.r7.com/os-dez-mandamentos/fotos/fique-por-dentro-historiador-explica-significado-de-cada-uma-das-dez-pragas-do-egito-01092015#!/foto/13
1 CONTEÚDO
aberto. In:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estela_de_Mernept%C3%A1 - 04/09/15
2 Apopi
(Ipepi na língua egípcia antiga) foi um faraó pertencente à
linhagem dos hicsos que governou o Baixo Egito durante a dinastia XV
e o final do segundo período intermediário. Apopi I governou o
norte do Egito por 40 anos. Embora Apopi I tenha governado o Alto
Egito, este faraó era dominante em quase todo o Egito. Apopi I como
era de origem hicsa mantinha relações pacíficas com os nativos do
Egito. Outro fato importante acontecido no reinado de Apopi I foi a
vinda de José (filho de Jacob) para o Egito como escravo. Apopi I
teve dois filhos: Príncipe Apopi e Princesa Herit. Após sua morte
os hicsos foram expulsos do Egito.
CONTEÚDO
aberto. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Apopi_I - 04/09/15
3 Bíblia versão Almeida, Corrigida e Revisada Fiel. Em todas as versões de Língua Portuguesa que pesquisamos não é usado o termo “escravidão”, com exceção da Nova Versão Internacional. Todas as versões tradicionais pesquisadas, inclusive a versão do Rei James, usam a palavra “servidão” ou “servir”.
4 BRIGHT, J., História de Israel, Nova Coleção Bíblica, n°7, 2 edição, Paulinas, São Paulo 1981, pág.170-174.
5 O Mistério da Tumba KV5 in: Nos Domínios do Realismo Fantástico.
Disp. http://www.dominiosfantasticos.com.br/id485.htm - 30/10/14
6 Maria Luciana Rincon Y Tamanini. Como a ciência explica as Dez Pragas do Egito descritas na Bíblia? In: MEGA CURIOSO. Acessado a 16/07/2015: http://www.megacurioso.com.br/religiao/37613-como-a-ciencia-explica-as-dez-pragas-do-egito-descritas-na-biblia-.htm
3 Bíblia versão Almeida, Corrigida e Revisada Fiel. Em todas as versões de Língua Portuguesa que pesquisamos não é usado o termo “escravidão”, com exceção da Nova Versão Internacional. Todas as versões tradicionais pesquisadas, inclusive a versão do Rei James, usam a palavra “servidão” ou “servir”.
4 BRIGHT, J., História de Israel, Nova Coleção Bíblica, n°7, 2 edição, Paulinas, São Paulo 1981, pág.170-174.
5 O Mistério da Tumba KV5 in: Nos Domínios do Realismo Fantástico.
Disp. http://www.dominiosfantasticos.com.br/id485.htm - 30/10/14
6 Maria Luciana Rincon Y Tamanini. Como a ciência explica as Dez Pragas do Egito descritas na Bíblia? In: MEGA CURIOSO. Acessado a 16/07/2015: http://www.megacurioso.com.br/religiao/37613-como-a-ciencia-explica-as-dez-pragas-do-egito-descritas-na-biblia-.htm
7 http://www.apologeticacatolica.com.br/agnusdei/livr31.htm
8 http://www.seuhistory.com/node/135506
9 http://www.feparaorapto.com.br/eventos-modernos/mar-de-sangue-praia-de-fortaleza-ce-fica-com-aguas-vermelha-e-fenomeno-despertam-curiosidades.html
10 GNotícias.
As 10 pragas do Egito
– Cientistas comprovam a existência, mas dizem que foram uma
cadeia de coincidências.
Acessado a 04/09/2015 em:
http://noticias.gospelmais.com.br/as-dez-pragas-do-egito.html
11 Segundo
o Dr. Richard A. Gabriel, do Royal Military College of Canadá no
documentário “Batalhas a.C. Moisés Fugindo da Morte”, do
History Channel, que faz uma análise do Êxodo sob o ponto de vista
militar.
12 Bíblia
versão Almeida, Corrigida e Revisada Fiel. Em todas as versões de
Língua Portuguesa que pesquisamos não é usado o termo
“escravidão”, com exceção da Nova Versão Internacional.
Todas as versões tradicionais pesquisadas, inclusive a versão do
Rei James, usam a palavra “servidão” ou “servir”.
13 Conteúdo
Aberto In: https://es.wikipedia.org/wiki/Hala-%27l_Badr
15 LOPES,
Ana M. de Souza. Monte
Bedr – o verdadeiro monte dos dez mandamentos
- Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências
Biomédicas da Universidade de São Paulo. Disp. e acessado em
25/06/2015 em:
http://observatoriocristao.com/monte-bedr-%E2%80%93-o-verdadeiro-monte-dos-dez-mandamentos/
http://observatoriocristao.com/monte-bedr-%E2%80%93-o-verdadeiro-monte-dos-dez-mandamentos/
Boa noite Marcello. Excelente suas análises e comentários sempre muito sensatos.Gostei muito e pretendo acessar mais vezes. O formato do blog é muito legal. Peço apenas que coloque letras "amarelas" como em legendas...branca atrapalha um pouco p visualizar. Bj
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