O
TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO
No
trecho intitulado “Primeiras Palavras”, João Pinto Furtado7
faz uma reconstituição do que foi o movimento da Inconfidência
Mineira (1788 – 1789) e, focando a figura de Tiradentes, seu
integrante mais célebre, procura destacar a imagem na qual se
reproduz no imaginário nacional, entre os embates intelectuais e
políticos brasileiros: no campo político busca situar o movimento
que supostamente procurou lançar as bases da nacionalidade
brasileira; no campo intelectual afirma que foi um movimento encabeçado pela
elite, de Vila Rica e abrigando, em seu interior, uma
gama heterogênea de interesses; no campo do imaginário, o autor apresenta a construção de um “imaginário nacional”, partindo de
Tiradentes e do desenrolar do movimento.
Para
o autor as imagens que se produz da Inconfidência, principalmente de
Tiradentes, relutam muito no campo do imaginário, pois são colocados como agentes que possibilitaram, e
representaram, uma imposição do “Brasil” perante Portugal,
oprimido ante opressor.
Segundo o autor essas são construções que necessitam uma melhor análise, afirmando que “é preciso ir além das aparências e visões consagradas, e retomar outras possibilidades de explicação”. (p.13)
Segundo o autor essas são construções que necessitam uma melhor análise, afirmando que “é preciso ir além das aparências e visões consagradas, e retomar outras possibilidades de explicação”. (p.13)
Por
que Manto
de Penélope?
O autor recorre à mitologia, onde mostra a estória mitológica de
Penélope, “que
desfazia e refazia seu manto para tentar manter seus votos nupciais
com Ulisses”.
(p.13)
E
como o manto, o autor procura explicar os processos de construção,
desconstrução e reconstrução colocada pela historiografia em se
tratando de Inconfidência Mineira.
Com
essa linha de pensamento o autor mostra que a conspiração, que teve
seu desenlace em 21 de Abril de 1792, esteve ligada ao apogeu e crise
de uma capitania, Minas Gerais, que sempre foi cercada pelos maiores
cuidados e vigilância por parte da coroa. Ele informa que foi nessa
capitania que se deu, efetivamente, “a
imposição do estado no Brasil”, caracterizada no controle restrito do processo de mineração.
Furtado
mostra que nas primeiras décadas do século XVIII, Minas Gerais
passou por um processo de urbanização marcado pela desorganização
no que concerne à ocupação das novas 14 vilas criadas no mesmo
século.
E os imigrantes e migrantes não possuíam nenhuma raiz ou relação com a terra, obrigando-os a se adaptar das maneiras mais criativas, “às vezes bastante competitivas”. (p.14)
E os imigrantes e migrantes não possuíam nenhuma raiz ou relação com a terra, obrigando-os a se adaptar das maneiras mais criativas, “às vezes bastante competitivas”. (p.14)
E tal situação gerou um ambiente nada pacífico e ordeiro, no ponto de vista
político. Segundo o autor “nas
primeiras décadas do século XVIII, a chuvosa e fria região central
mineira ‘evaporava tumultos’, ‘exalava motins’, ‘trocavam
desaforos’, quando não ‘vomitavam insolências’”.
(p.15)
O
autor coloca que a coroa portuguesa teve a necessidade de se adaptar
às novas realidades, onde os novos habitantes, com o desejo de
enriquecer rapidamente, tentavam fugir da ação limitadora do
estado, presente na cobrança de impostos, sobre o ouro, principalmente.
E,
dentro desse contexto de arrecadação, configuravam-se novas
modalidades de cobranças sobre o ouro. Ele aponta três
métodos de arrecadação do quinto, aplicado durante o século
XVIII: A separação de 20% do peso total e a colocação do selo
real; o método de captação e o método por estimativa.
O
fator tributário foi o principal expoente de conflitos que ocorreram
em diferentes décadas do século XVIII, mostrando também a
“imposição do estado” como grande deflagrador de vibrante
reação do povo da capitania: A Guerra dos Emboabas; a
Revolta de Felipe dos Santos e a Inconfidência Mineira. E Furtado mostra, muito bem que as questões tributárias e fiscais foram dois motivos
principais de confronto nessa época. (p.21)
Continua...
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7FURTADO,
João P. O
manto de Penélope; História, mito e memória da
Inconfidência Mineira de 1788-9.
(1ª ed.) São Paulo: Cia das Letras, 2002
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