A ROMA DO GLADIADOR
FICÇÃO E HISTÓRIA - II
Gladiador nasce como
uma leitura da sociedade e da moral atual, feita pelos olhos de um
império extinto, mas não porque seus autores quisessem ser
filosóficos, mas para evitar o fracasso dos últimos filmes sobre
Roma que foram feitos décadas atrás.
Para isso, roteiristas
e diretor desprezam a História ou a moldam segundo os interesses
comerciais, que significam fazer Roma ao gosto atual. Um realismo
fictício, mas que é capaz de convencer e agradar.
É o próprio diretor
que nos diz que a pesquisa é básica, que, uma vez identificadas as
datas, épocas e personagens, o resto é dedução, no que é apoiado
pelo roteirista William Nicholson, quando diz que a pesquisa fornece
coisas que não se pode inventar, mas que um roteiro não é a
própria História, mas uma história criada, que terá a preferência
sobre a primeira.
Assim nós vamos ver que Marcus Aurélius e Cômodus são retratados de forma um pouco mais correta que os demais, pois a História oferece mais elementos sobre eles, ao contrário da filha de Marcus Aurelius, Lucila, sobre quem quase nada se sabe, apenas que participou de um golpe contra Comodus.
O personagem principal,
Maximus, nunca existiu, embora o Making Off do filme afirme que a
inspiração para sua criação vem de um general que teria
desaparecido logo após a morte de Marcus Aurélius, porque faria
parte de uma lista negra do novo imperador. E é só isso que se sabe
sobre ele. Portanto, não houve um general que virou escravo, um
escravo que virou gladiador e que desafiou um imperador matando-o na
arena.
Vale acrescentar ainda,
antes de adentrarmos o universo do filme em si, que este é sobre um
homem e seu maior desejo: voltar para sua casa, para sua esposa, seu
filho, sua família, pois é preciso, também, atrair o público
feminino que não está muito interessado em lutas e sangue, mas que
se comove com o pai de família que, tendo a glória a seu alcance,
prefere voltar para os braços da esposa amada.
Vemos aqui a presença
incontestável de um dos valores máximos da sociedade americana,
sempre presente em filmes e discursos políticos, ao menos da boca
para fora: um homem deve "proteger sua família". Ou vingá-la, quando
isso não é mais possível. Sob este dogma, até mesmo as guerras
americanas se sustentam.
Vamos, portanto,
investigar como alguns aspectos da Roma antiga são apresentados pelo
filme e compará-los com a História.
Vamos, portanto,
investigar como alguns aspectos da Roma antiga são apresentados pelo
filme e compará-los com a História.
Continua...
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