DEZENOVE DE OUTUBRO
ANTECEDENTES - A GUERRA VAI PARA ÁFRICA!
Após devastar seguidamente as legiões romanas enviadas contra si, mas sem força suficiente para avançar
sobre o restante da Itália, Anibal permaneceu no Sul, em Cápua, aguardando
reforços de Cartago que jamais chegaram a contento. “É provável que nem o
derradeiro esforço de Cartago pudesse proporcionar um exército bastante forte
para essa tarefa.”[1]
Por outro lado, Roma invadiu
Siracusa e depois Agrigento, o que deu
aos romanos o domínio da Sicília, garantindo o abastecimento e complicando as
rotas entre as tropas de Anibal e Cartago.[2] Um
ano depois foi a vez de Cápua ser retomada na ausência de Anibal e suas tropas.[3] Logo
após a invasão de Filipe V foi frustrada por alianças entre Roma e cidades gregas.[4]
Acima vistas de
Cápua e do Rio Volturo. Abaixo: Vistas de Siracusa. Imagens do Google Street
View
Ao mesmo tempo foram travados
combates na Hispânia, onde se estabeleceu impasse nas imediações do Rio Ebro o
que, contudo, isolou Anibal dentro da Italia.[5]
Aos poucos Roma ganhava terreno
conquistando vitórias não definitivas mas estrategicamente vitais. E logo entraria
em cena um personagem que gravaria com fogo seu nome na História: Públio
Cornélio Cipião, ou, como ficou mais conhecido, Cipião, o Africano, filho do
primeiro Cipião a enfrentar Anibal. Seu ataque e conquista de Nova Cartago
(atual Cartagena – Espanha), significou a derrota de Asdrúbal e a tomada da
base de Anibal fora da Itália.[6]
E, para piorar, quando cruzou os
Alpes e adentrou a Itália, Asdrúbal foi morto e suas forças foram aniquiladas pelo
Cônsul Nero em Signalia, às margens do Rio Metauro. “Tal derrota decidiu a
sorte da campanha”[7]
A vitória em Cartagena aumentou muito
o prestígio de Cipião, que foi eleito Cônsul em 205 a.C. Logo ele propôs
invadir Cartago, para o que não teve apoio do Senado, sendo-lhe permitido “...instalar-se
na Sicília, com permissão para passar a África se tal fosse do interesse de Roma…”[8], o que ocorreu no ano seguinte.
Cipião partiu para África.
Ao chegar ao seu destino, as forças
de Cipião “...derrotaram 500 cavaleiros cartagineses que os vieram fustigar
e obtiveram uma adesão […] do príncipe númida dos Massilos, chamado
Masinissa...”. Depois, cercaram o porto de Útica, sem obter um sucesso
imediato.[9]
Por outro lado, usando uma
estratégia diversionista, derrotou as forças cartaginesas e númidas (sob o
comando do Rei Sifax), e ficou com o caminho livre para Cartago.[10]
Acima vistas de Cartagena – Espanha. Abaixo: o Rio Metauro em Fossombrone e ruínas de Útica. Imagens do
Google Street View
Contudo, antes de marchar para a
capital, Cipião derrotou a Numídia e tomou Túnis, bem à frente de Cartago,
depois desviou suas tropas iniciando saques nas áreas vizinhas. Em situação difícil, os cartagineses
iniciaram negociações de paz que foram interrompidas quando, enfim, convocado,
Anibal voltou para casa.[11]
A devastação causada por Cipião
forçou Anibal a segui-lo para um local onde seus suprimentos ficaram com o
abastecimento prejudicado e onde as forças romanas poderiam receber o reforço
da cavalaria númida de Masinissa, lutando ao lado de Roma.[12]
Este local era nas imediações de Naraggara, atual Saqiyat Sidi Yusuf na Tunísia,
mas passou para a História com outro nome: Zama![13]
Encontro de Anibal e Cipião. |
A BATALHA DE ZAMA!
Antes da batalha, Anibal e Cipião
se encontraram em um daqueles momentos em que se pode ver, claramente e sem
qualquer dúvida, a História sendo feita. Tito Livio escreveu, muito tempo
depois, portanto duvidoso, que Aníbal, solicitante do encontro, iniciou a conversa:
Se [...] o destino quis desta maneira que eu, que fui o primeiro a fazer
a guerra contra Roma e que tantas vezes tive a vitória final quase ao alcance
de minha mão, seja agora o primeiro a vir pedir a paz, me felicito porque o
destino te designou, entre todos os demais, como aquele a quem se há de pedi-la.[14]
Políbio escreveu que Anibal
ofereceu a devolução da Hispânia, Sicilia, Sardenha e todas as demais ilhas entre
a Itália e a África, e a promessa de não guerrear mais por esses objetivos. Mas
Cipião não aceitou.[15]
Nos parece, pelos relatos de Tito e
Políbio, que quando o momento da batalha chegou, Cipião tinha um exército menor
porém melhor, e conhecia mais a região do que Anibal (este não vinha a Cartago
desde criança) e escolhera o terreno mais propício para a luta, posicionando-se
de modo a ter uma fonte de água da região dentro dos limites de suas tropas.
Também por estes relatos,
percebemos que Anibal tinha sob seu comando poucos dos veteranos com os quais
cruzara os Alpes, suas tropas eram bem heterogêneas, uma parte não havia lutado
sob suas ordens ainda. Ele não tinha cavalaria suficiente, de modo que posicionou
os elefantes à frente das tropas, na esperança de que desfizessem a linha
romana logo no primeiro ataque.[16]
Mas Cipião não formou uma linha
contínua de unidades na frente, deixou espaços vazios “...entre elas, devido
ao grande número de elefantes que tinha o inimigo.”[17] Por este espaço os
elefantes poderiam passar e ser combatidos sem esmagar as tropas.
Quando a luta começou, os elefantes
avançaram. Mas os romanos, em uma estratégia brilhante, iniciaram uma gritaria
e o toque de trombetas. Os elefantes se assustaram e debandaram. Muitos
voltaram sobre os próprios cartagineses e outros desfizeram a formação da
cavalaria de Anibal.[18]
Por este espaço, aberto pelos
elefantes, os cavaleiros númidas de Cipião, comandados por Masinissa, penetraram
e desbarataram de vez a formação cartaginesa.[19]
Quando as infantarias avançaram os
romanos conseguiram romper as linhas de Anibal quase até a retaguarda, quando
foram chamados a recuar por Cipião. Ele os reuniu em linha para enfrentar a
melhor tropa de Cartago, formada pelos veteranos das batalhas na Itália, vários
dos quais estavam com Anibal desde os Alpes.[20]
Quando as duas linhas se chocaram o
combate ficou equilibrado, mas logo depois as cavalarias de Masinissa e Lélius
retornaram, atacando pelas laterais e por trás. Vitória de Roma.[21]
Anibal conseguiu escapar, refugiou-se
em Adrumeto (atual Sousse) e depois seguiu para Cartago onde anunciou que a
resistência era impossível.[22]
Então a capital aceitou exigência de Roma para rendição.[23]
Cartago concordou em pagar
indenização (parcelada em 50 anos), suprir as tropas romanas com cereais por 3
meses, entregar desertores, prisioneiros de guerra, escravos e 100 reféns, não
intervir mais na Numídia, não fazer mais qualquer guerra sem permissão romana e
não treinar mais elefantes. Poderia, contudo, manter seu atual território (sem
a Numídia), suas próprias leis e um reduzido número de dez trirremes (navios).[24]
Após sua vitória épica, Cipião
retornou a Roma onde desfilou em triunfo. Deixou quase completamente a vida
militar, passando a ocupar alguns cargos públicos.
Anibal passou a administrar Cartago
e garantir que os pagamentos a Roma fossem feitos. Conseguiu também restabelecer
importantes rotas de comércio. Nessa tarefa acabou fazendo muitos inimigos
entre a elite. Os romanos, que não esperavam que Cartago pagasse a dívida,
passaram a procurar motivos para invadir a cidade e destrui-la definitivamente,
já que não viam com bons olhos o ressurgimento do comércio cartaginês. Quando enviaram
uma delegação a Cartago com acusação contra Anibal, este foi obrigado a fugir.[25]
Anos depois os generais se
reencontraram em Éfeso, onde conversaram sobre os “velhos tempos”. Plutarco escreve
que na conversa amistosa, Anibal disse que o maior general fora Alexandre, o
Grande, depois Pirro e ele próprio. Cipião, não vendo o próprio nome na lista
perguntou: “E se eu te vencesse?”. E Anibal respondeu: “Então, oh
Cipião! Eu não poderia me colocar em terceiro, mas iria declarar você o
primeiro entre todos!”[26]
Imagens (capturadas nos sites
abaixo entre Abril e Junho de 2015):
http://cartographia.files.wordpress.com/2008/06/overlay.jpg
http://cartographia.files.wordpress.com/2008/06/minard-hannibal.jpg
http://www.heritage-history.com/www/heritage.php?Dir=characters&FileName=hannibal.php
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMQjhU1SYpL-oMYnqtMDUW6KpMK15AYH44DJpuz-yP2mqM_hk_qsWC8fXpcrXfCs55VDQaZsqoiQgx2QlyXLxGiGK4QiT5jmDomSEEwU9EIwQLTMdZnf5DleoK4YRqgTyMcf-lzTmEITzq/s1600/HannibalElephAlps.jpg
http://elespiritudellince.blogspot.com.br/p/las-localizaciones.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ruines_de_Carthage.jpg
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Carthage_villas-romaines_1950.jpg
http://worldhistoryconnected.press.illinois.edu/3.2/gilbert.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Trebia
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Battle_Trebia-numbers.svg
http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2010/05/cavalaria-numida.html
http://www.casteggiohomeitaly.it/project/history-of-casteggio
[1] Ibid. pg.64
[2] (GRIMAL: 2011) pg. 72
[3] (GRIMAL: 2011) pg. 72-73
[4] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXVI: 24
[5] (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg. 177
[6] (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg. 178
[7] (ROSTOVTZEFF:
1983) pg.66
[8] (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg. 183
[9] Ibid.
pg. 184
[10] (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg. 184
[11] Ibid.
pg. 184-185
[12] Ibid.
pg. 186
[13] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 29
[14] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 30 – Tradução Livre
[15] POLÍBIO
DE MEGALÓPOLIS. Historia Universal Bajo La República Romana
- Tomo III – Libro Decimoquinto . Cap. I.
[16] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 33
[17] POLÍBIO
DE MEGALÓPOLIS. Historia Universal Bajo La República Romana
- Tomo III – Libro Decimoquinto . Cap´. I.
[18] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 33
[19] Idem
[20] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 34
[21] TITO
LIVIO. História de Roma desde su fundación. Livro XXX: 35
[22] Ibid.
Livro XXX: 34
[23] Ibid.
Livro XXX: 36
[24] Idem
[25] CONTEÚDO
aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%ADbal#An.C3.ADbal_deixa_Cartago – Acesso:
08/07/2015
[26] PLUTARCO.
Vidas Paralelas - Tomo III. Tito Quincio Flaminino - XXI. (Tradução
Livre).
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