A
CRUZADA DOS POBRES
A tragédia humana que
foram as Cruzadas começou a se desenvolver no Concílio de
Placência, Itália. Realizado entre os dias 01 e 05 de março de
1095, ele foi convocado pelo Papa Urbano II após o conflito entre
Roma e o Imperador Henrique IV, do Sacro Império Romano-Germânico.
Durante a reunião foi
apresentado o pedido de socorro do Imperador Bizantino Aleixo I
Comneno, que lutava contra os turcos. Ele pretendia o envio de
mercenários, mas o que Roma lhe enviou superou suas melhores e
piores expectativas.
Diante do pedido de
socorro bizantino, o Papa Urbano II vislumbrou a chance de, a partir
de uma causa comum, reunir toda a cristandade em torno de um comando
único: o dele, é claro!
O Papa, então,
convocou outro concílio, marcado para 27 de novembro daquele mesmo
ano na cidade de Clermont, atual Clermont-Ferrand, França.
Acima e abaixo, Urbano II em Clermont |
Na ocasião Urbano II
prometeu o perdão de todos os pecados para os que pegassem em armas
e fossem à Terra Santa combater os pagãos. Foi estrondosamente
aclamado por ricos e pobres e, a partir dali, ele próprios e as
demais autoridades da Igreja passaram a pregar a Guerra “Santa”
pela Europa.
Mas, os primeiros a
atender o chamado papal e se colocar a caminho de Jerusalém não
foram os reis, príncipes e nem mesmo os mercenários. Foram os
pobres quem primeiro se colocaram a caminho do Oriente.
Nobres e pobres exultam pela Cruzada |
Vários grupos de
cruzados foram formados na Europa. Eles ganharam esse nome porque
costuravam uma cruz na roupa e muitos venderam tudo que tinham para
comprar as armas e demais materiais necessários à viagem.
O pregador mais famoso
foi Pedro, o Eremita, um monge de Amiens, França, que reuniu uma
multidão de pobres e partiu, sem qualquer planejamento, rumo à
Jerusalém através da Hungria e dos Balcãs.
Pedro, o Eremita, arregimenta seu exército |
Os problemas começaram
já nas estradas pois várias cidades não tinham condições ou
recusavam-se a alimentar aquela multidão de peregrinos que, por sua
vez, acreditavam ser obrigação das cidades suprir suas
necessidades, já que viajavam para cumprir a vontade de Deus.
As primeiras e mais
constantes vítimas dessa turba foram os judeus. Em muitas cidades
eles foram roubados, atacados, mortos ou convertidos à força. Se a
Cruzada era contra os inimigos da cristandade, por que não atacar
logo aqueles que estavam mais próximos, no caso os judeus das
cidades no caminho da Cruzada? E foi o que fizeram sempre que
possível.
Logo, judeus de vários
locais da Europa, inclusive nos quais a tropa do Eremita nem passou,
sofreram a perseguição de fanáticos e de oportunistas, estes
últimos compostos de devedores dos judeus e de quem não lhes devia
mas cobiçava as riquezas.
Massacre de Judeus em Metz, França |
Rota dos Cruzados Pobres |
Tal procedimento
resultou em inúmeros conflitos e combates mas, também, no pagamento
de grandes somas de riqueza da parte daqueles que preferiam pagar do
que arriscar-se a um confronto com os fanáticos cruzados.
Constantinopla e o Estreito de Bósforo |
Quando chegaram a
Constantinopla a multidão de pobres já tinha perdido cerca de dez
mil combatentes. Desapontado por pedir soldados e receber mendigos,
Aleixo I Comneno logo providenciou a travessia dos cruzados pelo
estrito de Bósforo para a Ásia Menor. Lá, porém, eles ficariam a
mercê dos experientes guerreiros turcos, que já os aguardavam.
Pedro, o Eremita, diante de Aleixo I Comneno |
A despeito de todos os
avisos, os cruzados decidiram atacar logo, mas estavam divididos em
dois grupos, por conta de desentendimentos. Um grupo, formado por
francos, era comandado por Godofredo Burel e o outro, formado por
alemães e italianos, eram comandados por Reinaldo.
Os alemães e italianos
tomaram a fortaleza de Xerigordo onde, contudo, foram cercados e, sem
água, obrigados a se render, sendo mortos ou escravizados.
Ruínas de Nicéia, atual Iznik |
Os demais, que se
dirigiram a Nicéia também não tiveram sorte diferente. Foram
emboscados e massacrados. Quem se rendeu, mais as crianças, foram
poupados. Quem resistiu morreu.
Os pouco mais de 3000
sobreviventes conseguiram retornar a Constantinopla onde foram
absorvidos pelos guerreiros de verdade, comandados por Godofredo de
Bulhão, comandante da Cruzada dos Nobres.
A Cruzada dos Nobres encontra a Cruzada dos Pobres... |
Imagens da Wikicommons.
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