Em um dia como este 15/03, no ano 44 a .C., Júlio César era morto
no Senado de Roma pelos golpes traiçoeiros de seus inimigos.
O Reino de Clio presta homenagem a um dos
maiores políticos e generais da História trazendo o relato de Suetônio sobre a
morte do ditador romano.1
A escrita, em antigo português de
Portugal, foi mantida. Vamos a Suetônio:
Mais de 60 cidadãos conspiraram contra
elle; tinham à frente C. Cassio, Marco e Decimo Bruto. Vacillaram ao principio
sobre a forma de se desfazerem do oppressor; se, na assembleia de Campo de Marte,
no momento em que chamasse as tribus aos suffragios, uma parte d'entre os
conjurados o deitaria por terra, e outra o massacraria então; ou se o atacariam
na rua Sagrada ou á entrada do theatro.
Mas quando a assembleia do senado fosse
indicada para os idos de março na sala construída por Pompeu, elles
concordariam todos a não procurar momento nem logar mais favoráveis.
Prodígios tocantes annunciaram a César o
seu fim próximo.
Alguns mezes antes, colonos a quem elle
dera terras na Campania, querendo ali edificar casas, escavaram antigos túmulos
com tanta mais curiosidade, que de tempos em tempos encontraram monumentos
antigos; acharam n'um sitio, onde se dizia que Capys, o fundador de Capua,
estava sepultado, uma mesa de bronze com uma inscrípção em grego cujo sentido
era que, quando se descobrissem as cinzas de Capys, um descendente de Júlio
seria morto pela mão dos seus parentes, e seria vingado pelas desgraças da
Itália.
Não se pôde encarar este facto como
fabuloso ou inventado ; é Cornelio Balbo, amigo intimo de César, que o conta.
Pelo mesmo tempo soube-se que os cavallos
que César tinha consagrado no dia da passagem do Rubincon, e que deixara
pastando em liberdade, se abstinham de todo o alimento e choravam
abundantemente. O adivinho Spurinna o avisou, num sacrifício, que estava
ameaçado d'um perigo, ao qual se exporia antes dos idos de março.
Na véspera d'estes mesmos idos, pássaros
de differentes espécies, voaram d'um bosque visinho e fizeram em pedaços uma
carriça que se havia empoleirado em cima da sala do senado com um ramo de louro
no bico. Na própria madrugada do dia em que foi assassinado, pareceu-lhe
durante o somno, que voava acima das nuvens, e que tocava na mão de Júpiter.
Sua mulher Calpurnia sonhou que o alto da
casa caía e seu marido fora ferido com successivos golpes nos braços. As portas
da sua camara abriram-se por si mesmo.
Área do Teatro Argentina em Roma, onde ficava o Forum de Pompeu, no qual César foi assassinado. |
Saiu pela quinta hora do dia.
Apresentaram-lhe uma memoria que continha um detalhe da conjuração, que elle
misturou com outras que tinha na mão esquerda, como se a reservasse para a ler
n'outra occasião.
Imolaram-se varias victimas, sem que uma
só desse presagios felizes, e arrostando esses terrores religiosos, entrou no
senado, zombando de Spurinna: «Afinal, os idos de março chegaram, vindos sem
accidente, dizia elle», a que respondeu o adivinho : «os idos não passaram
ainda.»
Quando tomou o seu logar, os conjurados o
cercaram como para lhe fazerem a corte, e immediatamente Tullio Cimber, que se
encarregara de dar começo á tragedia, aproximou-se como para lhe pedir uma
mercê. Tendo-lhe César feito signal para deixar para outra occasião o pedido,
Cimber o agarrou pelo alto da túnica. «É uma violência!» exclamou César.
Então, um dos dois Casca o feriu com um
punhal um pouco abaixo do collo, César agarrou-lhe no braço, e lhe enterrou um
punção que tinha na mão. Quer arremete-lo, mas uma segunda punhalada o detém ;
vê de todos os lados o ferro levantado sobre elle; então cobre a cabeça com a
sua veste e com a mão esquerda abaixa a túnica para cair mais decentemente.
Deram-lhe vinte e três golpes. No
primeiro soltou um gemido sem proferir palavra alguma. Outros, comtudo, contam,
que César disse a Bruto que avançava para o ferir: «E tu também, meu filho!»
Ficou algum tempo estendido no chão.
Todos haviam fugido. Por fim, três
escravos o levaram para casa n'uma liteira, d'onde lhe pendia um dos braços.
De tantas feridas, a única que o seu
medico Antiscio achou mortal, foi a segunda que recebera no peito.
Os conjurados tinham resolvido arrastar o
cadáver para o Tibre, de declarar os seus bens confiscados e todos os seus
actos nullos, mas o receio que tiveram do cônsul António e de Lépido, general
de cavallaria, os deteve.
Depois, a pedido de Lúcio Pisão, seu
sogro, abriu-se o testamento, que foi lido na casa de António. César havia-o
feito no mez de setembro anterior, numa casa de campo, chamada Lavicanum, e
confiara-o á primeira das vestaes.
O salão do Senado ficaria ao fundo da imagem, em parte já coberta pela rua, abaixo do prédio rosado. |
Mas pelas suas ultimas disposições
nomeava três herdeiros, os seus segundos sobrinhos : C. Octávio com três
quartos da herança ; Lúcio Pinario e Quinto Pedio tinham a ultimo quarto.
No fim do testamento adoptava Octávio e
lhe dava o seu nome. Declarava vários dos seus assassinos tutores de seus
filhos, se os houvesse. Collocou Decimo Bruto na segunda classe dos seus
legatários, deixava ao povo romano os seus jardins sobre o Tibre e 300
sesterceos por cabeça.
No dia marcado para as exéquias,
levantou-se uma fogueira no Campo de Marte, ao pé do tumulo de Júlia, e uma
capella dourada defronte da tribuna dos oradores, pelo modelo do templo de
Vénus Mãe; ali se collocou um leito de marfim, coberto d'um estofo de ouro e de
púrpura sobrepujado d'um tropheo d'armas e da mesma túnica, que vestia quando
fora assassinado.
Como se não acreditava que o dia fosse
bastante para a multidão daquelles que traziam offertas para a fogueira, se se
observasse a marcha fúnebre, declarou -se que, cada pessoa iria sem ordem e
pelo caminho que conviesse, levar as suas dadivas ao Campo de Marte.
Nos jogos funerários, cantaram-se vários
trechos compostos para excitar a piedade e a indignação, como o monologo de
Ajax na peça de Pacuvio, que tem por titulo : As armas de Achilles: Foi o seu
salvador para ser sua victima, etc, e o de Electra d'Accio, mais ou menos
similhante.
Em logar de oração fúnebre, o cônsul
António mandou ler por um arauto o ultimo senatus-consulto que lhe concedia
todas as honras divinas e humanas, e o juramento pelo qual todos se obrigavam a
defende-lo com risco da própria vida. Accrescentou muito poucas palavras esta
leitura.
Magistrados em funcções ou tendo deixado
o cargo, conduziram o leito de estado para a praça publica. Uns queriam
queima-lo no santuário de Júpiter, outros no senado.
De repente dois homens armados de espadas
e trazendo dois chuços, deitaram fogo ao leito com tochas, e logo cada um se
apressou a deitar-lhe madeira secca, bancos, cadeiras de juizes, e tudo que se
encontrasse á mão.
Dois tocadores de flauta e histriões
deitaram os fatos triumphantes de que estavam revestidos para a cerimonia; os
veteranos legionários, as armas com que se haviam enfeitado para as exéquias do
seu general; as mulheres os seus adornos e os de seus filhos.
Os estrangeiros tomaram parte neste luto
publico ; deram uma volta em torno da fogueira, patenteando o seu desgosto cada
um ao uso do seu paiz. Os próprios judeus velaram algumas noites ao pé das
cinzas.
Logo depois das exéquias, o povo correu
com fachos ás casas de Bruto e de Cassio, e só com muito custo foi repellido.
Encontrou um certo Helvio Cinna, que
tomaram pelo tribuno Cornelio Cinna, que. na véspera havia arengado
violentamente contra César ; foi massacrado e trouxeram-lhe a cabeça espetada
no cabo d'uma lança.
Depois, erigiram na praça publica uma
columna de mármore de Africa, de vinte pés de altura, com a inscripção:
AO PAE DA PÁTRIA
Durante muito tempo o povo ia ali
offerecer sacrifícios, formar votos e terminar certas desavenças jurando pelo
nome de César.
[…]
Durante os jogos que o seu herdeiro
Augusto celebrou para sua apotheose, um cometa cabelludo brilhou durante sete
dias; apparecia pela undécima hora do dia, e dizia-se ser a alma de César
recebida nos céus...
É assim que Suetônio narra a morte do
homem que, a despeito de sua trajetória sangrenta, salvou Roma de si mesma e
concedeu a seus inimigos uma piedade e buscou uma harmonia que poucos antes e
depois dele praticaram. O pagamento por isso foi a traição e a morte.
Contudo, a diferença é que, enquanto César
vive no panteão dos grandes líderes políticos e militares, dentre os quais é um
primus inter pares, seus assassinos
vivem na infâmia da História e ali permanecerão para sempre, pois é lá, MT, o lugar dos traidores.
AVE CÉSAR!
1 Obra Roma Galante – Crônica escandalosa
da corte dos doze Césares, tradução de Guilherme Rodrigues, publicado pela
João Romano Torres & Cia, de Lisboa, pgs. 34 - 38
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Imagens:
http://seuhistory.com/hoje-na-historia/assassinado-julio-cesar-de-roma
http://www.keywordsking.com/YW50b255IGZ1bmVyYWwgb3JhdGlvbg/
http://fadomduck2.blogspot.com.br/2015_08_01_archive.html
http://m.megacurioso.com.br/saude-e-beleza/69925-novo-diagnostico-aponta-que-julio-cesar-nao-sofria-de-epilepsia.htm
http://www.biography.com/people/julius-caesar-9192504
https://omundonumamochila.com.br/category/italia/
http://www.heritage-history.com/index.php?c=academy&s=char-dir&f=antony
http://www.eonimages.com/media/8d0fc9ec-3a63-11e0-983b-37ad3c946b85-mark-antony-delivers-funeral-oration-for-julius-caesar
http://superrara.deviantart.com/art/Calpurnia-s-Dream-83704225
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