Em 1911 Churchill viu-se
envolvido, enquanto membro do governo, na Terceira Crise do Marrocos,[3] na qual a Alemanha e a França quase
chegaram a uma guerra. (pg. 258-259)
Nesta
época, Churchill passou a analisar como se desenvolveria a situação se o país
chegasse a uma guerra com a Alemanha e o que ele escreveu é basicamente uma
profecia que se cumpriu ipsis-literis:
O exército alemão irromperia pela
linha do rio Meuse ao vigésimo dia de guerra. Os franceses recuariam na direção
de Paris. [...] O ímpeto do avanço alemão enfraqueceria lentamente quanto mais
fosse alargado. A partir do trigésimo dia, o exército russo começaria a exercer
pressão na Frente Oriental. O exército britânico deveria estar colocado em Flandres. Por volta
do quadragésimo dia, as forças alemãs no Ocidente “estariam estendidas ao
máximo, tanto internamente quanto nas suas frentes de guerra”. A tensão dessa
situação se tornaria dia a dia “mais severa” sem uma vitória “definitivamente
esmagadora”. Seria então que poderia haver “oportunidades para a verdadeira
prova de força”. (<pg. 260)
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] A Crise de
Agadir ou Terceira Crise do Marrocos ou Crise Marroquina de 1911 foi uma crise
internacional ocorrida em 1911 que quase culminou em um conflito armado entre
Alemanha e França, o que poderia ter ocasionado a Primeira Guerra Mundial três
anos antes. O incidente começou quando, em maio de 1911, a França enviou
tropas ao Marrocos para sufocar uma revolta popular contra o sultão Abd
al-Hafid. Diante da possibilidade dos franceses anexarem o Marrocos, a Alemanha
enviou em julho uma canhoneira ao porto marroquino de Agadir, uma região
estratégica tanto por si só (é o melhor porto na região entre Gibraltar e Ilhas
Canárias) quanto pela situação do domínio francês no Marrocos. Este episódio
foi um novo desafio para a França após a Primeira Crise do Marrocos, pois em
1905, Guilherme II durante uma visita a Tânger, havia proclamado que a Alemanha
não iria permitir que o Marrocos fosse dominado por uma única potência (a
França). Essa ameaça foi eliminada pela Conferência de Algeciras (1906), na
qual foram convidadas todas as potências europeias, em que foi acordado
manter-se a independência marroquina, porém os portos do país foram todos
confiados à França e Espanha. No caso de Agadir, a ativa diplomacia europeia
também conseguiu a resolução da crise, que culminou com a assinatura de um
acordo franco-alemão - o Tratado de Fez - em que a Alemanha deu à França carta
branca em relação ao Marrocos, no qual o Império Alemão não teria direito de
discutir, tudo isso em troca de uma parte significativa do Congo francês
(conhecido como Neukamerun) que seria cedido para a Alemanha para este país
inflar os territórios do Império Colonial Alemão. Pelos acordos assinados com a
França, a Espanha também adquire a obrigação de exercer um protetorado no
Marrocos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_Agadir
Tropas Francesas no Marrocos |
A
mesma visão aguda e capacidade de percepção Churchill mostrou em relação a
situação da Marinha Britânica, a seu ver o alto comando naval, chamado de
Almirantado, estava sendo displicente em relação ao que estava ocorrendo
naquele momento. Suas cartas enviadas a diversas autoridades naqueles dias
continham denúncias e dúvidas quanto a capacidade de compreensão e ação dos
comandantes navais. Na primeira reunião do parlamento, em 24/10/1911, foi
anunciada a nomeação de Winston para o posto de Primeiro Lorde do Almirantado.
(pg. 263)
Uma
vez nomeado, Churchill logo passou a atuar fortemente na preparação da Marinha
para a eventualidade de uma guerra e seus esforços foram no sentido de obter um
diagnóstico completo da situação para poder solucionar todas as deficiências,
bem como conceber planejamentos e equipar e modernizar bem sua frota. Também
incentivou a criação de uma força aérea subordinada à Marinha, que fosse capaz
de atividade agressiva, ao contrário do que concebiam os comandantes do
Exército, que viam nos aviões apenas a utilidade em atividades de
reconhecimento. (pg. 263-266)
Os
olhos de Winston estavam sempre voltados para a Alemanha e o fortalecimento da
armada do Kaiser, que era a maior ameaça, no momento, ao domínio naval inglês.
A drástica ampliação da frota, planejada pela Alemanha, fez Churchill avisar o
governo sobre a necessidade da ampliação ainda maior da frota britânica.
Kaiser Wilhelm e Churchill |
Ao
mesmo tempo ele sugeriu, no parlamento, que houvesse uma parada conjunta na
indústria naval bélica de ambos os impérios, sugestão que a Alemanha não
acatou. Surpreendentemente houve dificuldades na aprovação de um orçamento
maior, que mantivesse o poder naval inglês equiparado ao alemão. (pg. 267-281)
Quando
foi ao parlamento defender sua proposta, Churchill declarou:
Nenhuma das grandes potências
precisava de armadas para defender “sua atual independência ou sua segurança”,
disse ele. “Eles constroem navios para terem um papel nos assuntos mundiais.
Para eles, é um esporte. Para nós, é uma questão de vida ou morte. (<pg.
281)
O
orçamento foi aprovado e logo as atenções se voltaram para a questão da
autonomia da Irlanda, que os católicos desejavam, o governo liberal queria
conceder mas os protestantes não aceitavam, ameaçando com uma rebelião
violenta. Aos poucos, e discretamente, forças da Marinha e tropas foram sendo
deslocadas para os arredores da Irlanda, para serem usadas em caso de rebelião
do Ulster, a região da Irlanda onde a oposição protestante era mais exaltada.[1] (pg.
281-282)
Nossa
impressão, até o momento, é que Churchill era irriquieto desde tenra idade,
cresceu carente da presença e do afeto dos pais, o que pode ter contribuído
para sua personalidade rebelde, carreirista como era a cultura entre a nobreza
de sua época, sempre conseguiu, contudo, destacar-se quando se esforçou
minimamente para tanto.
Na
vida adulta substituiu a mãe pela esposa na intensa correspondência pessoal que
originava. A distância dos que amava no entanto, inclusive esposa e filhos, se
manteve, agora não pelos colégios internos e a vida militar, mas pelos postos
políticos que ocupou, especialmente como Primeiro Lorde do Almirantado.
Nesse
ínterim ainda encontrou tempo para aulas de pilotagem de avião, o que causava
arrepios em familiares e amigos pelos riscos imensos envolvidos na atividade
ainda iniciante.
[1] O Ulster (em irlandês Ulaidh ou
Cúige Uladh, em scots
Ulstér ) uma das das quatro províncias históricas ou
tradicionais da Irlanda, dividida em nove condados, dos quais seis, atualmente,
localizam-se na Irlanda do Norte e três na República da Irlanda. A província
não possui funções administrativas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ulster
A
todos ele ignorava até que a esposa, na terceira gravidez, pediu-lhe que
parasse com os vôos, o que ele atendeu muito a contragosto. (pg. 286)
CONTINUA
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