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terça-feira, 23 de julho de 2019

TEXTO: VALE A LEMBRANÇA 2





CÉSAR CRUZA O RUBICÃO
Em um dia 10/01 como hoje, no ano 49 a.C., Júlio César, acompanhado da XIII Legião, atravessou o Riacho Rubicão, em Ariminum (atual Rimini – Itália), cruzando assim a fronteira italiana da época e violando a lei do Senado que proibia o ingresso de Generais e Legiões armadas na Itália.
A República Romana vivia seus momentos finais, embora parecesse restaurada após a ditadura de Sila. Quando este morreu, o poder retornou a um Senado desconectado do povo e incapaz de reassumir, de fato, o comando do império que Roma já se tornara.1
Com isso, recorreu-se ao suporte de figuras aliadas de Sila, mas capazes de reunir apoio popular, apesar de oriundas das classes dominantes. O poder passou a se concentrar em Cneu Pompeu e Marco Crasso.2
O Triunvirato
Crasso, “...general enriquecido pela compra dos bens confiscados por Sila...”3 derrotara a rebelião de Spartacus, mas tivera seu triunfo (o mais pomposo desfile militar) negado pelo Senado.4
Pompeu conquistara fama e fortuna vencendo a rebelião de Sertório, na Hispania, também vencera o Rei Mitridates e eliminara os piratas do Mar Mediterrâneo.5 Contudo os senadores estavam receosos do poder acumulado pelo general, por eles mesmos conferido, e passaram a cerceá-lo.6
Uma vez terminadas as campanhas militares, Pompeu e Crasso deveriam devolver os postos de comando, o que não fizeram. E o Senado não tinha como forçá-los sem iniciar uma guerra civil.7
Para garantir o apoio do partido popular, ambos fizeram acordo com um dos sobrinhos de Mário que conseguira escapar da perseguição de Sila. Seu nome? Júlio César!8
O acordo político dos três garantia “assistência mútua entre si para dividir o poder” entre eles mesmos e seus aliados nascendo, assim, o sistema que ficou conhecido como Primeiro Triunvirato.9
Este sistema de alianças permitiu que César chegasse ao Consulado e conseguisse, depois, o mandato para atuar na Gália. Esta guerra, como se sabe, lhe garantiu imensa riqueza e fama, equiparando-o, e até superando, seus dois parceiros de poder.
Apesar dos imensos egos que suportava, o acordo correu bem até que a morte os separou. Em 54 a.C. a esposa de Pompeu, Júlia, morreu de parto. Ela era filha de César.10 E no ano seguinte, 53 a.C., quem morreu foi Crasso, quando seu exército foi massacrado na Partia.11
Com esta morte, o equilibrio do Triunvirato acabou pois “A graça do triunvirato residia na sua inerente estabilidade, pois nenhum dos seus membros podia contra os outros dois”.12
O iminente retorno de César vitorioso e super rico da Gália fez com que seus adversários do Senado instigassem Pompeu contra ele. A estratégia consistiu, segundo Sheppard, em fazê-lo voltar a Roma sem a imunidade do cargo de Cônsul, para poder acusá-lo e derrotá-lo, apesar de um acordo ter sido aprovado “...por ampla maioria: 370 votos contra 22.13
Os 22, porém, conseguiram vetar os votos dos 370 e “O fato de os poucos senadores poderem vetar uma medida com apoio tão amplo era apenas um dos sinais do estado de deterioração das instituições democráticas de Roma.14
Lissner compara Roma a uma nau sem piloto, entregue à anarquia: “O Senado era corruptível, a Constituição estalava por todos os lados e as tribunas dos oradores estavam muitas vezes manchadas de sangue...15
Quando Pompeu finalmente aderiu aos inimigos de César, o confronto direto deixou de ser apenas uma das opções, passando a ser a única.16
Os primeiros embates da Guerra Civil, porém, ocorreram não nos campos de batalha, mas no piso do Senado. Uma série de medidas legislativas, algumas apenas de fachada, outras aprovadas e depois vetadas, resultou, por fim, na declaração de César como fora da lei.17
Com suas conquistas e a própria vida em risco, César dirigiu-se a Ariminum, onde o Rio Rubicão marcava a fronteira da Itália, na qual pela lei ele não poderia entrar liderando tropas.18
Plutarco descreve assim o momento decisivo: “Havendo, pois, chegado ao Rio Rubicão, […] parou pensativo e esteve por algum tempo meditando sobre o atrevimento de suas ações. Depois […] sem articular mais palavras do que esta expressão […] - A sorte está lançada...- fez com que as tropas atravessassem o rio.”19
César estava voltando pra casa!


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1    SHEPPARD, Si. Grandes Batalhas - Farsália 48 a.C. César contra Pompeu. Osprey – Espanha 2010. pg. 10
2      Idem
3    MENDES, Norma Musco. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988. pg. 67
4    BRANDÃO, José Luís (coord.); OLIVEIRA, Francisco de (coord.). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César. Coimbra-Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. pg.373
5    GRIMAL, Pierre. História de Roma. Trad. Mª L. Loureiro. São Paulo: UNESP , 2011. pg. 106
6    (MENDES: 1988) pg. 67
7    (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.373
8    (MENDES: 1988) pg. 67
9    (GRIMAL: 2011) pg. 111
10  SUETONIUS. Roma Galante – pg. 16
11  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.384
12  (SHEPPARD: 2010) pg. 11
13  BRUNS, Roger. Os Grandes Líderes – Júlio César. São Paulo: Nova Cultural, 1988. pg. 64
14    Idem
15  LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. pg.79
16  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.385
17  (SHEPPARD: 2010) pg. 12-16
18  Ibid. pg. 16
19  PLUTARCO. Vidas Paralelas - Tomo V - Pompeyo: LX




GETÚLIO VARGAS TOMA POSSE!
O Presidente Arthur Bernardes, eleito dentro do esquema da política do café com leite, que dividia o poder nacional entre mineiros e paulistas, começou seu governo censurando a imprensa (nada livre) ao fechar o Jornal Correio da Manhã, que publicara cartas falsas  atribuídas a ele durante a campanha.
Em 1924 Bernardes enfrentou revoltas em São Paulo e no Rio Grande do Sul que deram origem a Coluna Prestes. Acuado, o Presidente colocou o país sob estado de sítio para poder governar e apoiou uma reforma constitucional que lhe deu mais poderes.
Seu sucessor foi Washington Luis que, apesar de carioca, vencera a eleição dentro do esquema da política do café com leite, com apoio de Minas Gerais e São Paulo.

O novo presidente revogou o estado de sítio mas enfrentou forte oposição, especialmente por parte dos partidos fora do eixo Minas - São Paulo e de organizações de trabalhadores rurais e das cidades.
Em seu governo a polícia foi usada constantemente para reprimir as classe trabalhadora e a crise do café piorou.
Ao perder apoio de mineiros e paulistas, Washington Luis lançou Júlio Prestes como candidato à sua sucessão, enquanto a oposição concorreu com Getúlio Vargas. Júlio Prestes venceu a eleição mas não assumiu.
Antes do final do mandato, o assassinato de João Pessoa (26/07/1930), Vice de Vargas, deu à oposição motivo para iniciar uma marcha revolucionária que partiu do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro em 03/10/1930.
No dia 24/10/1930 os Generais Tasso Fragoso e Mena Barreto, em conjunto com o Almirante Isaias Noronha depuseram Washington Luis e tomaram o governo provisoriamente.
No dia 03/11/1930 o poder foi passado a Getúlio, encerrando assim a República Velha e iniciando a Era Vargas.
 
 
 

NO CAMINHO DA ABOLIÇÃO
Nesta data, no ano de 1871, era promulgada a Lei do Ventre Livre, que libertava todos os filhos de escravos nascido a partir daquele dia. Catorze anos depois (1885), na mesma data, era aprovada a Lei dos Sexagenários, que libertava todos os escravos que atingissem a idade de 65 anos.
A Lei do Ventre Livre foi fruto de uma antiga pressão diplomática da Inglaterra, que pretendia fazer surgir um mercado consumidor bem maior para seus produtos através da criação de uma grande classe assalariada no Brasil. Claro que isso não era mencionado, preferindo-se o argumento de que a escravidão era uma abominação desumana.
A pressão inglesa veio também pela força das armas pois, com a aprovação do Slave Trade Suppression Act (Ato de Supressão do Comércio de Escravos), mais conhecido como Lei Bill Aberdeen (08/08/1845), a marinha real britânica passou a abordar os navios negreiros.
Essa medida, vista como uma intromissão indevida na soberania nacional, levou à aprovação da Lei Eusébio de Queirós em 04/09/1850, que proibia o tráfico internacional de escravos para o Brasil.
A lei, apesar de conter uma intenção mais de aparência do que de efetividade, logrou reduzir bastante a entrada de escravos vindos da África. Mas isso fez aumentar o comércio interno de escravos, entre as províncias, o que não satisfazia as intenções inglesas.
Por longos anos o país se bateu no dilema entre a questão humana e econômica até que a libertação dos filhos de escravos foi visto como uma forma lenta e segura de caminhar para o fim da escravidão sem grandes prejuízos econômicos para os donos de escravos.
A Lei nº 2040 foi, após meses de discussões e aprovação da Câmara, aprovada no Senado por 65 votos contra 45, a maioria destes últimos dados por representantes dos produtores de café de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A Lei do Ventre Livre desagradou aos escravagistas, pela perda de patrimônio futuro, e aos abolicionistas mais radicais, pois não resolvia o problema de imediato.
O passo seguinte só foi dado catorze anos depois, quando foi aprovada a lei que libertava os escravos de 60 anos (após mais três anos de trabalho compensatório a seus proprietários) e imediatamente os escravos com 65 anos.
O projeto foi apresentado por Souza Dantas do Partido Liberal em 15/07/1884 e a oposição a ele foi tamanha que gerou uma crise que acabou com a dissolução da Câmara.
Quem recolocou a ideia novamente em pauta foi o novo Presidente do Conselho de Ministros, o Barão de Cotegipe (João Maurício Wanderley). Ele negociou um novo projeto, apresentado pelo Senador José Antônio Saraiva, com as mudanças de idade e indenização. Ambos eram membros do Partido Conservador.
A estratégia de Cotegipe para conseguir os votos conservadores necessários ao novo projeto foi fazer-lhes ver a aprovação sob aquelas bases menos desfavoráveis como uma forma de calar a propaganda abolicionista. A lei foi aprovada e promulgada em 28/09/1885.
Na prática, a nova lei, somada a anterior, colocava um marco temporal para o fim da escravidão no Brasil: quando o último escravo completasse 65 anos, o que se daria, no mais tardar, em 1936, sem contar as eventuais (e muitas) fraudes. Mas, felizmente, os abolicionistas queriam mais. E conseguiram! Menos de três anos depois era aprovada a Lei Áurea.
Para conhecer o texto da Lei do Ventre Livre clique aqui.
Para conhecer o texto da Lei dos Sexagenários clique aqui.

Fontes e Imagens:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_do_Ventre_Livre
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bill_Aberdeen
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/08/31/lei-dos-sexagenarios-completa-130-anos
http://www.historia.uff.br/curias/modules/tinyd0/index.php?id=14
http://blackpagesbrazil.com.br/?p=2119
http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Escravos&lang=3




76 ANOS DE UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE
(Republicado)
Nos dias 06 e 09 de agosto, em 2021, completam-se 76 anos do bombardeio atômico às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. A nosso ver, a manipulação da energia nuclear para fins militares e, pior ainda, o seu uso efetivo, foi um dos piores crimes da História humana.
Os ataques foram as últimas etapas de uma corrida iniciada anos antes, em 1939, que contrapusera o III Reich e os Estados Unidos na disputa pelo domínio da energia nuclear.
Mobilizando uma astronômica quantidade de recursos humanos e materiais, os americanos ergueram uma super-secreta base de construção em Los Álamos, no deserto do Novo México, mais as gigantescas fábricas de processamento de urânio e plutônio em Oak Ridge, Tennessee e Hanford, Washington, respectivamente.
O Laboratório de Los Álamos - Novo México.
Sob o comando militar do General Leslie Richard Groves e do Físico Julius Robert Oppenheimer, os americanos prepararam duas bombas, a Little Boy, com carga de urânio, e a Fat Man, carregada com Plutônio e alguns dos parâmetros para a seleção de alvos potenciais deixa clara a natureza sinistra do planejamento: área urbana que fosse um importante alvo estratégico, com tamanho maior que 4,8km de diâmetro.
O Físico Oppenheimer e o General Groves.
Em outras palavras, uma cidade de médio ou grande porte, bem povoada, que seria transformada em um laboratório para testar a arma e, depois, fazer a máxima propaganda de seus efeitos.
Hiroshima, com cerca de 350 mil habitantes, que era sede de várias unidades militares, que possuía um centro de comunicações e um movimentado porto, foi atacada em 06/08, às 08:15hs, pela bomba Little Boy, transportada pelo avião bombardeiro B-29 Enola Gay, do 393º Esquadrão de Bombardeio, sob comando do Coronel Paul Tibbets.
A bomba Little Boy, a equipe do bombardeiro B-29 Enola Gay e a explosão sobre Hiroshima.
Nagasaki, que abrigava cerca de 260 mil habitantes no dia do ataque, que também era uma cidade industrial e portuária, era o alvo secundário do segundo bombadeio atômico (o principal era Kokura) e foi atacada em 09/08, às 11:00hs, com a bomba Fat Man, lançada pelo avião bombardeiro B-29 Bockscar, do 393º Esquadrão de Bombardeio, sob comando do Major Charles W. Sweeney.
A bomba Fat Man, a equipe do bombardeiro B-29 Bockscar e a explosão sobre Nagasaki. 
Os efeitos devastadores causaram a morte instantânea ou consecutiva de 140 mil pessoas em Hiroshima e de 80 mil pessoas em Nagasaki, aproximadamente.
A obra “O Último Trem de Hiroshima”, de Charles Pellegrino1, fazendo uso de documentos e relatos coletados entre os sobreviventes, reconstitui de forma brilhante e terrível, os bombardeios e seus momentos posteriores.
É uma leitura assustadora, e reveladora do quão fundo o ser humano desceu na capacidade de causar o mal a seus semelhantes.
Pellegrino descreve a vaporização de pessoas antes mesmo que seus cérebros pudessem emitir a sensação de dor:
Sob o hipocentro, o sangue no cérebro da senhora Aoyama já começava a vibrar, na iminência de virar vapor. O que ela experimentou foi uma das mortes mais rápidas de toda a história humana. Antes que algum nervo começasse a perceber a dor, ela e seus nervos deixaram de existir. (pg.29)2
Muitas dessas vítimas desapareceram completamente, deixando como lembrança de sua presença apenas sombras impressas no chão ou em paredes, como negativos de uma fotografia.


Para os que não foram diretamente expostos, o horror de presenciar outros sendo diretamente atingidos, como a Srª. Teruko Kono, que não enviara seu filho à escola naquele dia:
Quando veio o golpe, ela o observava brincar em uma balsa, da janela do segundo andar de casa, à margem do rio. A casa ficava dentro da zona de Sadako, a menos de dois quilômetros do hipocentro. A senhora Kono foi escudada contra o raio de calor, mas o garoto foi completamente exposto. Ela o viu ser transformado em um relâmpago branco e pálido e emitir uma coluna de fumaça negra para o alto... (pg.37)
Qualquer coisa de cores mais escuras, como cabelos e roupas, pareciam atrair de forma mais forte os efeitos da explosão. Quem vestia roupas brancas parece ter sido atingido menos intensamente, se é que isso fez alguma diferença mais significativa.
Em sua obra,  Pellegrino reconstitui relatos de premonições assustadoras de crianças que imploraram para não serem enviadas à escola por suas mães, mas que não foram atendidas. Um dos casos foi o da jovem Etsuko Kuramoto que, diante da determinação irrevogável de sua mãe, de que iria para escola de qualquer forma, pediu para usar sua melhor roupa:
Quando Sumi Kuramoto viu a filha pela última vez, sua sagrada, adorada filha caminhava em direção à Escola Primária Nacional, rumo ao hipocentro, com sua "melhor roupa de domingo", e chorava. (pg.38)
Outra premonição, ainda mais arrepiante, foi a do garoto Hiroshi Mori. Ele disse à Yoshiko, sua mãe, que Hiroshima seria completamente destruída naquele dia. Mas ela não foi demovida da ideia de que o filho não poderia perder a aula e o enviou à escola:
...o garoto disse à mãe que se cuidasse e pediu que não colocasse comida em sua mochila, porque ele não precisaria de almoço naquele dia. (pg.38)
Relatos do momento da explosão dão conta do barulho ensurdecedor para alguns e quase silencioso para outros. Pessoas sendo erguidas do solo como folhas ao vento e depois novamente arremessadas ao chão com força esmagadora.
Para o Sr. Kita, que assistiu a explosão de uma estação meteorológica no monte fora da cidade, o barulho chegou em dois segundos e a onda de choque, segundo seus cálculos, viajava a setencentos metros por segundo. Após conseguir levantar, e usando um binóculo, ele pode ver toda a devastação que se abatia sobre Hiroshima:
Tudo no sul e no leste parecia ter-se tornado um deserto de areia amarela. No norte, e rio acima, o mundo era uma escuridão que mesmo à distância podia ser sentida, interrompida apenas por raios e turbilhões incandescentes que às vezes alcançavam a altura de cinco a dez andares. Havia estranhas correntes de vento ascendentes e descendentes junto à fumaça; e com os binóculos Kita pôde divisar grandes camadas de granizo negro ou neve descendo violentamente de cima. (pg.46-7)
Havia muitos sobreviventes, inclusive pessoas bem abaixo do local do chamado grau zero, onde ocorrera de fato a explosão. Estavam sob uma cúpula de concreto, ou ficaram dentro de bolsões de ar sob estruturas desmoronadas e escaparam no primeiro momento.
O caso do garoto de 13 anos, Yoshitaka, foi surpreendente. A escola inteira desabou ao seu redor, mas ele conseguiu sair “rápido o suficiente para testemunhar a nuvem ainda radiante que crescia no céu, quase diretamente acima de sua cabeça.”(pg. 58). Ele relatou o calor e as cores do arco-íris, o que chegou a considerar uma bela visão.
Os filhos da Srª Matsuyanagi, que escaparam praticamente ilesos da explosão e da onda de calor, não escaparam dos raios gama. A morte por hemorragia generalizada ocorreu poucas horas depois. (pg.60)
Além dos efeitos nocivos dos raios gama, os sobreviventes que podiam andar ainda foram submetidos à visão que pode ser classificada como o inferno na terra:
...a rua estava cheia de pessoas transformadas em carvão e pilhas de cera ardente. À primeira vista, a rua parecia simplesmente vazia, mas, quando ela olhou de novo por entre a fumaça e as chamas, era fácil ver como as pessoas que estavam caminhando na direção do banco jaziam caídas umas por cima das outras. Várias pareciam ter caído aos pedaços, como sacos de folhas queimadas e esparramadas pelo chão. (pg.62)
Depois dos primeiros efeitos, veio a chuva. Chuva negra com pingos grandes que machucavam a pele. Os relatos dão conta que os sobreviventes sentiam uma sede tão incontrolável que, contra todo bom senso, erguiam a cabeça para o alto e bebiam a chuva negra que, depois, iria lhes tirar a vida. (pg. 63).
Pellegrino segue trazendo horror sobre horror à medida que a leitura avança. Os relatos sobre a explosão em Nagasaki não são menos terríveis.
Não é uma leitura a ser recomendada como fazemos com um livro de aventuras ou mesmo de História. Não queremos que nossos amigos sofram. Mas é uma obra que deve ser lida, para que o repúdio à existência de armas nucleares cresça, se fortaleça e jamais desapareça.

Aqueles terríveis momentos parecem bem distantes de nós, no tempo e no espaço, mas há, espalhados pelo mundo, milhares de silos, plataformas e submarinos carregados com armas que fariam a Little Boy e a Fat Man parecerem brinquedos de criança.
As manchas brancas no chão da ponte, à direita, são tudo que restou de um grupo de pessoas que transitavam por ali no momento da explosão.
Nosso mais forte repúdio, no aniversário de 75 anos, àquele crime que foi cometido contra a humanidade, do passado, do presente e do futuro.
Marcello Eduardo.
Ps. Quem quiser ler a obra, pode fazer o download aqui. E quem quiser ler relatos de sobreviventes, recomendamos visitar este site aqui.
1PELLEGRINO, Charles. O Último Trem de Hiroshima : os sobreviventes olham  para trás. Rio de Janeiro : Leya, 2010.
2Versão em pdf, disponibilizada pelo site LeLivros






NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA
Em 2 a.C. (ou 7 a.C.), em um suposto dia 24 de junho, nascia João Batista, parente de Jesus, preparador de Seu caminho e responsável por Seu batismo nas margens do Rio Jordão.
João era filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, filiada à sociedade Filhas de Aarão e prima de Maria (mãe de Jesus).
Por ser filho de sacerdote, João teria tido uma educação esmerada na cidade de Engedi (Qumram), sede da Irmandade Nazarita, na qual João teria ingressado.
Os nazaritas abstinham-se de bebidas alcoólicas, de contato com cadáveres, usavam os cabelos longos, vestiam-se e se alimentavam com muita simplicidade, características que a Bíblia menciona a respeito de João (alimentando-se de gafanhotos e mel, vestindo-se com peles), além da pregação que conclamava o arrependimento e a preparação para a vinda do Messias. 

O batismo de Jesus teria sido realizado na região de Pela. A prisão de João Batista, por ordem de Herodes Antipas I teria ocorrido em Pereia, por volta de 26 d.C.. A decaptação ocorreu no ano seguinte.
Além da Bíblia, mais uma fonte histórica confirma a existência de João Batista. Flávio Josefo faz referência a ele em Antiguidades Judaicas:
Para alguns judeus a destruição do exército de Herodes pareceu intervenção divina, certamente uma punição pelo tratamento dado a João, o chamado Batista. Porque Herodes condenara-o à morte, mesmo ele tendo sido um homem bom e tendo exortado os judeus a levar uma vida correcta, praticar a justiça para com o próximo e a viver piamente diante de Deus, e fazendo por se batizar; porque a lavagem seria aceitável para ele, se o fizessem não para o perdão de pecados mas apenas para a purificação do corpo; pressupondo uma alma previamente purificada por uma conduta de rectidão. Quando outros também se juntaram à multidão em torno dele, pelo facto de que eles eram agitados ao máximo pelos seus sermões, Herodes ficou alarmado. Eloquência com tão grande efeito sobre os homens poderia levar a alguma forma de sedição. Porque dava a impressão de que eles eram liderados por João em tudo que faziam. Herodes decidiu então que seria melhor agir antes, executando João, do que arrepender-se mais tarde. Por esta suspeita de Herodes, João foi trazido acorrentado a Machaerus, a fortaleza de que falamos antes, e lá executado. Porém o veredicto dos Judeus era de que a destruição que atingiu o exército de Herodes foi um castigo, um sinal de desagrado de Deus. 1
O suposto dia do nascimento de João Batista é marcado, no Brasil, pela festa junina de São João, onde a população, especialmente no interior, celebra com o consumo de comidas típicas, fogueiras, fogos de artifício e apresentação de quadrilhas, cuja origem teria sido inspirada nas danças de salão das cortes reais europeias.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nascimento_de_Jo%C3%A3o_Batista
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista
(1)Antiguidades Judaicas, XVIII, 5, 2
http://quem-escreveu-torto.blogspot.com.br/2012/09/evangelhos-canonicos-historia-segundo.html

Imagens:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/37/Hermitagetintorettobirthofjohnthebaptist.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gregorio_Fern%C3%A1ndez_-_Bautismo_20140703.jpg


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HISTÓRIA DO DIA DO TRABALHO
O 1º de Maio é o dia do trabalho e/ou do trabalhador em vários países do mundo e também no nosso amado Brasil. Mas, tanto aqui como em muitos países, a conquista desse dia foi cercada de muitas lutas.
A escolha da data tem ligação com a greve realizada em Chicago no ano de 1886 quando milhares de trabalhadores protestaram pela redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias.
O protesto de 01/05 terminou pacificamente, mas três dias depois, em 04/05, a Revolta de Haymarket resultou na morte de 08 policiais após a explosão de uma bomba. Quando a polícia abriu fogo, 11 manifestantes morreram e dezenas ficaram feridos.

Os 08 líderes do movimento foram presos, processados e, mesmo sem provas de participação no lançamento da bomba, foram condenados, quatro deles à morte. Um deles cometeu suicídio e os demais acabaram absolvidos pelo governador do estado de Illinois. 
Acima o julgamento dos líderes do movimento de Chicago e abaixo as execuções.


A data do primeiro protesto, 01/05, foi adotada pela Internacional Socialista de Paris em 20/06/1889 como dia de mobilização dos trabalhadores pela jornada de 08 horas diárias. Dois anos depois, na mesma Paris, os manifestantes foram duramente reprimidos pela polícia, resultando em 10 mortes.
Mas aquele terrível sacrifício não foi em vão, pois em 23/04/1919, o Senado da França aprovou a adoção da jornada de 08 horas e transformou o dia 01/05 em feriado.
Quando a URSS fez da data um feriado nacional, vários outros países adotaram a mesma medida. Nos EUA a data não foi reconhecida, mas a jornada de 16 horas foi reduzida para 08 horas em 1890.
No Brasil a data vem sendo lembrada desde 1890, mas só ganhou força mesmo após a chegada dos imigrantes que traziam as ideias de organização dos trabalhadores de seus países.
Em 1917 uma grande greve geral paralisou a cidade de São Paulo e o movimento cresceu até que, em 1925, o Presidente Arthur Bernardes instituiu o Dia do Trabalho também no Brasil.
Desse dia em diante, o 1º de Maio passou a ser um dia de protestos da classe trabalhadora até que Getúlio Vargas passou a fazer uso da data para anunciar medidas governamentais de benefício ao trabalhador e a organizar celebrações, desfiles e festas nas quais o governo era exaltado.
Em 01/05/1940 Getúlio anunciou a criação do salário mínimo e, no ano seguinte, a criação da Justiça do Trabalho. Em 1943 foi instituída a CLT (massacrada agora pelo governo de MT e seus compadres). Os aumentos do salário mínimo também passaram a ser anunciados nesta data.
Com a supressão de direitos e o arrocho salarial promovidos pela Ditadura Militar, aos poucos a data foi sendo retomada como dia de protestos e manifestações da classe trabalhadora.
Nossa gratidão a todos aqueles que deram suas vidas por um tratamento mais humano por parte dos patrões aos trabalhadores.
Monumento aos mártires de Chicago. Chegará o dia em que nosso silêncio será mais poderoso do que as vozes que você está estrangulando hoje.
E que os homens e mulheres de hoje, que ganham seu sustento na lida diária da indústria, do comércio, dos serviços e do meio rural, possam se espelhar em seus colegas do passado e lutar para manter e ampliar seus direitos.
Trabalhadores do Mundo! Uni-vos!



DISCURSO DE MARTIN LUTHER KING
No ano de 1963, no dia 28 de agosto, o pastor protestante e líder político Martin Luther King Jr. proferia o célebre discurso “Eu Tenho um Sonho”, das escadarias do Lincoln Memorial, em Washington – EUA.
Nascido em 15/01/1929, em Atlanta – Geórgia, King participou dos movimentos civis em Montgomery - Alabama, incluindo o boicote aos ônibus, após Rosa Parks, mulher negra da cidade, se negar a dar seu lugar a um branco dentro do transporte público. O movimento foi vitorioso e logrou acabar com a discriminação racial nos transportes coletivos dos EUA.

Após esta vitória, King participou da fundação da Conferência da Liderança Cristã do Sul, movimento que praticava a desobediência civil. As ações do grupo, que geralmente atingiam os racistas onde era mais doloroso (o bolso), eram combatidas com violência pelas forças da lei, o que gerou uma onda de indignação nos EUA.
Uma dessas ações foi a Marcha de Washington por Empregos e Liberdade, durante a qual King proferiu seu discurso para cerca de 200 mil pessoas.

Suas palavras, consideradas um dos mais belos discursos da História, ajudaram na aprovação do Ato de Direitos Civis de 1964 e do Ato de Direitos do Voto de 1965, nos quais a discriminação racial legalizada sofreu duríssimos golpes nos EUA.
Vejamos seu discurso abaixo, que podemos assistir no vídeo posterior:
Eu Tenho Um Sonho
“Estou feliz por estar hoje com vocês num evento que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nosso país.
Há cem anos, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à longa noite de cativeiro.
Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação.
Cem anos mais tarde, o negro ainda vive numa ilha isolada de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o negro ainda definha nas margens da sociedade americana estando exilado em sua própria terra. Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramatizar essa terrível condição.

De certo modo, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitetos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam a assinar uma nota promissória da qual todo americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantia aos direitos inalienáveis de “vida, liberdade e à procura de felicidade”.
É óbvio que a América de hoje ainda não pagou essa nota promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar esse compromisso sagrado, a América entregou ao povo negro um cheque inválido devolvido com a seguinte inscrição: “Saldo insuficiente”.
Porém recusamo-nos a acreditar que o banco da justiça abriu falência. Recusamo-nos a acreditar que não haja dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidade desse país. Então viemos para descontar esse cheque, um cheque que nos dará à vista as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.
Viemos também para este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é hora de se dar ao luxo de procrastinar ou de tomar o remédio tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da democracia.
Agora é hora de sair do vale escuro e desolado da segregação para o caminho iluminado da justiça racial. Agora é hora de retirar a nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida rocha da fraternidade. Agora é hora de transformar a justiça em realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência desse momento. Esse verão sufocante da insatisfação legítima do negro não passará até que chegue o revigorante outono da liberdade e igualdade. Mil novecentos e sessenta e três não é um fim, mas um começo. E aqueles que creem que o negro só precisava desabafar e que agora ficará sossegado, acordarão sobressaltados se o país voltar ao ritmo normal.
Não haverá nem descanso nem tranquilidade na América até o negro adquirir seus direitos como cidadão. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir os alicerces do nosso país até que o resplandecente dia da justiça desponte.

Há algo, porém, que devo dizer a meu povo, que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça: no processo de ganhar o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de atos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. Devemos sempre conduzir nossa luta no nível elevado da dignidade e disciplina.
Não devemos deixar que o nosso protesto criativo se degenere na violência física. Repetidas vezes, teremos que nos erguer às alturas majestosas para encontrar a força física com a força da alma.
Esta nova militância maravilhosa que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos irmãos brancos, como se vê pela presença deles aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino.
E estão conscientes de que sua liberdade está intrinsicamente ligada à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder.
Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: “Quando é que ficarão satisfeitos?” Não estaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos indescritíveis horrores da brutalidade policial. Jamais poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados com as fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso aos hotéis de beira de estrada e das cidades.

Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade básica do negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Não podemos estar satisfeitos enquanto nossas crianças forem destituídas de sua individualidade e privadas de sua dignidade por placas onde se lê “somente para brancos”.
Não poderemos estar satisfeitos enquanto um negro no Mississippi não puder votar e um negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos e só estaremos satisfeitos quando “a justiça correr como a água e a retidão como uma poderosa corrente”.
Eu sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês acabaram de sair de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a sua procura de liberdade lhes deixou marcas provocadas pelas tempestades de perseguição e pelos ventos da brutalidade policial.
Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Luisiana, voltem para as favelas e guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, essa situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no vale do desespero.
Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”
Eu tenho um sonho que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico sufocado pelo calor da injustiça, e sufocado pelo calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia “todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente”.
Essa é a nossa esperança. Essa é a fé com a qual eu regresso ao Sul. Com essa fé nós poderemos esculpir na montanha do desespero uma pedra de esperança. Com essa fé poderemos transformar as dissonantes discórdias do nosso país em uma linda sinfonia de fraternidade.
Com essa fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia haveremos de ser livres. Esse será o dia, esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado:
Meu país é teu, doce terra da liberdade, de ti eu canto.
Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada lado das montanhas ressoe a liberdade!

E se a América quiser ser uma grande nação, isso tem que se tornar realidade.
E que a liberdade ressoe então do topo das montanhas mais prodigiosas de New Hampshire.
Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque.
Que a liberdade ressoe das elevadas montanhas Allegheny da Pensilvânia.
Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado.
Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia.
Mas não só isso; que a liberdade ressoe da montanha Stone da Geórgia.
Que a liberdade ressoe da montanha Lookout do Tennessee.
Que a liberdade ressoe de cada montanha e de cada pequena elevação do Mississippi. Que de cada encosta a liberdade ressoe.
E quando isso acontecer, quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada lugar, de cada estado e cada cidade, seremos capazes de fazer chegar mais rápido o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção espiritual negra:
Finalmente livres! Finalmente livres!
Graças a Deus Todo Poderoso, somos livres, finalmente."

Martin Luther King


Fontes e Imagens:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eu_Tenho_um_Sonho
https://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_Parks
https://pt.wikipedia.org/wiki/Boicote_aos_%C3%B4nibus_de_Montgomery
http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/mundo/noticia/2013/08/confira-a-traducao-na-integra-do-discurso-feito-por-martin-luther-king-ha-50-anos-4248603.html
http://okok1111111111.blogspot.com.br/2013/08/martin-luther-king-jr-i-have-dream.html
http://www.history.com/topics/black-history/martin-luther-king-jr/pictures/martin-luther-king-jr/martin-luther-king-giving-dream-speech
http://genius.com/Martin-luther-king-jr-i-have-a-dream-annotated
http://www.sandiegouniontribune.com/news/2013/aug/28/martin-luther-king-i-have-a-dream/












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